Arrevesada Vaidade
Enfim encontrei o príncipe. Vinte e quatro anos e muito vaidosa, quase todo meu salário era destinado a cabeleireiro, roupas, sapatos, cremes e toda essa parafernália que mulher tem, mais as coisas que faz a fim de conter o tempo.
Engravidei do primeiro filho e depois do nascimento dele, demorou pra que eu perdesse o peso que ganhei na gravidez, aliás, alguns insistiram em ficar. Mas e daí? Meu filho e marido ocupavam tanto meu dia e eu me sentia tão feliz, que não dei muita importância. Era só fazer uma dieta saudável que aos poucos tudo voltaria ao normal.Assim eu fiz.
Quando estava quase lá, faltando pouco para voltar ao meu peso inicial, engravidei do segundo filho.Quase um ano,vivendo de verduras e legumes, a um passo de ficar verde ou virar lagarta, mas magra, grávida de novo!? Mas eu ficava tão linda, me sentia maravilhosa com aquele barrigão e andar de patinha que num instante ser magra já não era importante. Eu realmente estava feliz.
Agora, éramos três. Uma cuidando de três. É, de três!Marido também conta como criança... Eles querem atenção, carinho, disponibilidade, aquela camisa que não deu tempo de passar e vivem perguntando quando é que você vai fazer aquele bolo... Aquele que faz tempo que você não faz (fez na semana anterior) etc., etc., etc... Era uma loucura, mas muito satisfatório. Foi uma fase em que sentava no sofá pra ver a novela e apagava. Não assistia nada... Academia? Nem pensar!A que horas iria?E depois, só de pensar na esteira eu ficava ofegante. Meu Deus!Alguém tem que inventar um método menos cansativo de perder peso rápido. Será que não existe nada simples, de alta tecnologia pra perder peso e manter as coisas no lugar?
E mais uma vez,estava lá, dias, anos a fio na dieta.Foram oito anos.Precisava perder peso, sem perder a saúde, porque tinha meus chiquitos pra cuidar.Passados os oito anos, descobri que odiava Isaac Newton e a porcaria da lei da gravidade.Eu poderia jurar que essa lei era só para aporrinhar e enlouquecer as mulheres.Eu estava bem mais magra,mas já havia sinais dos efeitos do tempo e da gravidade.Tudo bem.Dá-se um jeito.
Eu tinha dois meninos e resolvemos, meu marido e eu, que tentaríamos uma menina.
No mês seguinte, lá estava eu mais uma vez grávida, ganhando peso, linda, cada vez mais barrigudinha e roliça, mas feliz.Mais ainda, quando soube que era mesmo uma menina.
Agora seria diferente. Uma menina!Eu tinha que me cuidar, afinal seria em mim que ela iria se espelhar, comigo é que ela aprenderia tudo sobre ser mulher.Exercitar um pouco da vaidade, não nos faria mal nenhum.
Já grandinha, cinco anos, tomávamos banho juntas, passávamos cremes, fazíamos ginástica de manhã, ela usava meus sapatos batendo o salto pela casa, usava meus vestidos e vivia dizendo que quando crescesse queria ser igualzinha a mamãe. Que orgulho eu sentia. Os meninos sempre foram amorosos, mas sempre apegados mais ao pai, por motivos óbvios.
Estava com trinta e oito anos e sentia como se tivesse voltado aos vinte quatro de quando me casei.Tirando o fato de que eu odiava cada vez mais a existência da gravidade, claro.
Minha princesinha tinha oito anos, lembro-me perfeitamente, quando uma noite fomos tomar nosso banho e fazer nosso ritual de cremes e escovação de cabelos para dormir e tive a certeza de que odiar a gravidade era pouco. Até então, eu, como todas as mulheres dava um jeito de driblar os efeitos da tal lei Newtoniana.
Durante o banho, notei que ela me olhava... Olhava... Perguntei:
-Que foi princesa?
-Nada mamãe. Só estou olhando como você é bonita.
Eu sorri. Tinha sinceridade nos olhinhos dela.
-Você é linda meu amor. Mais que eu...
-Mamãe, demora pra eu ficar uma moça grande?
-Mais rápido do que você imagina! Me dá o xampu.
Ela disparou:
-Quando eu crescer quero ser igual a você...
E continuou.
- Quero ter peito grande e pra baixo, igual a você.
Fiquei em silêncio.Muda.Em choque...
Passados uns dois ou três minutos, respondi:
- Um dia você vai ter minha filha, vai ter...
E caí na gargalhada.
Não é assim a vida?
Na manhã seguinte, liguei para um cirurgião e marquei uma consulta. A situação exigia medidas eficientes.Alguns meses depois eu tinha seios lindos! Iguais aos dos vinte anos.
Agora, tenho cara de quarenta e cinco anos, umas ruguinhas de quarenta e cinco anos, uns fios de cabelos brancos de quarenta e cinco anos, pressão alta que começou aos quarenta e cinco anos, mas com seios de 25 anos! Não é incrível?
Arrependida? De jeito nenhum! Só notei que nesses anos, ninguém me amou mais, nem menos por causa dos seios... Apenas eu me amei mais. Valeu à pena. Driblei o Newton!
Já o tempo...
(relato fictício)