09/09 DIA DE ESPIRITUALIDADE

Neste dia onde temos o nove tão marcante, numero que representa o saber espiritual, quero compartilhar uma historia do meu caminho sagrado, este que escolhi e tenho trilhado.

Era minha primeira vez. Sim a experiência que há tantos anos eu lia, em livros de Castanheda, e outros, agora ali estava a minha frente, um momento de passar de expectador e ator em um mundo de realidades fantásticas, Minha primeira vez tomando uma erva de estado alterado de consciência, dentro de um ritual xamanico. Isto não se esquece.

Muitos foram convidados a jantar, saindo do circulo xamanico e do alcance do fogo, mas uns foram convidados a ficar. Eu fui um dos cinco que ficaram. Eu, um psiquiatra, um ator e bailarino, o assistente do xama e o próprio.

O xama então nos chama para formarmos um ciclo mais próximo, e nos diz que precisa de ajuda para prosseguir com os rituais. Havia muita gente presente e naquele dia e as coisas estavam difíceis mesmo. Todos nos entreolhamos e decidimos, numa forma de decisão silenciosa, ali permanecer.

Foi então que ele mandou o assistente buscar o galão do liquido que iríamos tomar. A aioasca, uma beberagem indígena que nos leva a um estado de consciência mítico, alterado, mas eu não sabia ali o quanto ainda.

Enquanto a bebida era trazida todos ficamos em suspense e duvidas, uns chegaram a expressar sua duvida mas o xama nos tranqüilizou com eu olhar seguro e disse que se estávamos ali devíamos ir em frente.

Todos tomaram o primeiro como, quatro de nos tomaram o segundo e só eu e o xama tomamos o terceiro, copos grandes demais para o gosto de caldo de azeitona com uva, difícil mesmo ao paladar, que provoca imediatas reações ao estomago, que aqui não vou escrever, pois nada acrescentaria à narrativa.

Logo estávamos sentados ao alcance do fogo num circulo sagrado, eu era o mais distante do xama, e sentia esta distancia em minha insegurança, pois agora passado alguns minutos, batia o efeito da erva sagrada. Eu começava a sentir um morrer, como se minha alma tivesse cansada de habitar meu corpo e quisesse ir embora. Mas eu sabia que não era assim nem à hora de morrer, então me concentrei em outras iniciações mágicas de manter a vida e a harmonia, parecia que estava tudo começando a ficar bem.

Foi neste bem que começou. Um forte mergulho. Senti-me indo as profundidades de meu próprio corpo, num primeiro instante, adentrando em meu corpo físico, numa viagem que logo passou a ser pelo meu universo interno, escuro vácuo, depois estrelas e mais estrelas, noção do infinito dentro de meu ser, então o som de infidos corações, do tocar de corações de varias forma e tamanhos, mas a certeza de ouvir corações.

A viagem foi se acabando, uma paz a calma profunda se apossou de mim, naquele momento eu senti que voltava, que percebia novamente meu corpo físico, os sons a minha volta, meus olhos enxergavam o circulo no fogo, eu estava aqui de novo.

Fiquei ali sentado tocando ritmadamente meu tambor sagrado e refletindo sobre minha viagem, quando um amigo que também tinha tomado a erva passa por mim, com um olhar estranho, como numa viagem ruim e fala:

- Ta vendo? Isto da raiva. Já esta ai com cara serena e tranqüila, nada aconteceu.

Olhei para ele, puxei-o a sentar ao meu lado e disse:

- Quero te contar o que aprendi agora.

Ele parou.. me olhou... e ficou a escutar.

- Aprendi que se deve ter o coração grande e a mente pequena.

Ele se levantou e saiu esbravejando

- ta vendo? Isto da raiva, já aprendendo....

Aprendi neste dia a tomar minhas decisões no coração e usar minha mente apenas para viabilizar a execução destas.

Bom dia 9 de 9 de 2009 a todos os corações e mentes.

Guilherme Azambuja
Enviado por Guilherme Azambuja em 09/09/2009
Código do texto: T1801035
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