Obrigado, Cabral
 
A forma com que Sérgio Cabral, governador do estado do Rio de Janeiro, trata os professores é vergonhosa. É indecente a proposta de incorporação do Nova Escola aos vencimentos dos servidores. Não bastasse as diferenças de valores na gratificação, o governador ainda propõe a diminuição do plano de carreira, obtido depois de muitas discussões.
            Depois de anos sem reajuste salarial, tivemos o desprazer de ouvir propostas risíveis nos últimos anos. Um aumento de doze por cento, dividido em pequenas prestações soou como desrespeito. Quando finalmente tivemos a boa notícia da incorporação do piso máximo aos nossos mirrados vencimentos, poucos acreditaram, e fizeram bem em não acreditar em tamanha lorota.
            Sergio Cabral se comprometeu em nos conceder este aumento em parcelas anuais até o ano de 2015. Um ultraje à categoria que sofre todos os dias com salas lotadas, com a falta de estrutura das escolas e um salário que, em breve, será menor que o mínimo.
            Ontem houve votação na Alerj para a lei que diminuiria nosso plano de carreira e nosso aumento salarial parecido com um carnê das Casas Bahia. O que se viu foi o cúmulo do desrespeito ao educador estadual. Policiais lançaram bombas de efeito moral nos professores que acompanhavam a votação, deixando feridos os profissionais que lutam pelos seus direitos ignorados por um governante sem escrúpulos, como todos os outros que prometem e nunca cumprem. Não bastasse a violação dos nossos direitos, ainda agridem o professorado, um dos alicerces da formação e transformação social, moral e fisicamente.
            Devemos lembrar ao nosso governador que não somos criminosos, apesar de nos tratarem como seres marginalizados. Não somos arruaceiros, somos professores querendo melhores condições de vida, um salário justo e, principalmente, respeito.
            Não me admira o estado do Rio de Janeiro ser tão violento, depois da selvageria de ontem. Uma polícia despreparada, professores miseráveis, governantes hipócritas. A soma desses fatores mostra a cara do Rio de Janeiro: o paraíso para quem é de fora, um inferno para quem está dentro.
            Agora vamos esperar até 2015 para receber a nossa esmola. Continuar ensinando, porque somente o amor à educação nos motiva a entrar nas salas de aula, já que o incentivo é a base de presentes desnecessários e investimentos duvidosos.
            Quanto a greve, é melhor desistirmos, pois se não, ficaremos também sem a merenda que, muitas vezes, é o único prato que vemos sobre a mesa.
            Obrigado, Cabral, por expor ao Brasil a miséria do educador fluminense.

Rio de Janeiro,
09 de setembro de 2009