Derradeiro Prazer
E ando, e corro e corro ainda mais... Ando em busca da sobrevivência.
Corro fugindo da atroz perseguição humana. Caminho entre as árvores marmóreas, piso num chão granítico e ouço o som das minhas próprias unhas. Quero o verde. Quero o cheiro da paz! Corro mais. Tenho medo desses animais esquisitos, que soltam fumaça preta, soltam sons guturais... incompreensível linguagem... Couraça metálica!
Ando, procuro, chamo pelos meus, pela minha espécie. Onde estão?
O que é extinção?! Sinto-me único. Sou o último? Sou sim...
Sou um paradoxo... selvagem e 'doméstico'; translúcido e opaco; dócil e violento. Sou todos e ninguém!
Corro desesperadamente contra o tempo, contra o vento. Contra mim mesmo... Eu a quero. O cheiro de minha estrela. A proteção do negrume da noite! Corro mais... muito mais. Busco a segurança de minha toca de neon... O tempo urge... e minha vida também...
Minha toca! Olho ao redor. Sacudo sofregamente meu corpo, para que caiam as partículas de civilização nele existentes.
Fico imóvel. vai começar... é a mutação...
Lua cheia. o aroma agreste invade minhas narinas profundamente. Minhas patas sentem a umidade e a maciez da grama e da terra.
Vislumbro vultos, que se aproximam timidamente... são eles! Meus iguais! A noite, toda cheia de si, assume seu posto, exibindo seu luar prata! Eu luto para resistir, apenas para ter o prazer de perder! Olho para ela. Magnífica! Olha-me altiva e terna.
Eu? Sem poder me conter, pobre lobo solitário, esquálido e etéro. Uivo melodiosamente, até que o último fragmento de minhas forças o permita. Último lamento! Último momento de alegria!
Último e derradeiro prazer...
THERA LOBO (setembro de 2009)