Nick, o Terrível.

O Nick era filho de cachorros de rua. Minha avó o adotou quando ele nasceu, lá pelos 1960 e poucos.

Logo cresceu, ficou forte, lindo e... impossível!

Pensando que era pirão, comeu o cerol -- mistura de cola com vidro moído -- que meu primo preparava para "envenenar" a linha de sua pipa. Todos pensaram que este seria o fim do Nick. Que nada! Minha tia deu-lhe muito bagaço de laranja para comer e ele sobreviveu.

Não havia portão, nem grade, que contivesse aquele vira-lata! Namorou a cadelinha pequinês de um vizinho e, depois, ela teve dois filhotões numa sofrida cesariana.

Acompanhou minha mãe -- muito contra a vontade dela -- até uma tensa reunião de pais de alunos com o diretor da escola, da qual participou com muitos latidos e outras inconveniências, até ser expulso na marra.

Na trente da casa da vovó, onde havia uma frondosa árvore que dava uma acolhedora sombra, costumava reunir-se um pessoal que fumava uns cigarrinhos proibidos. Um dia notei que, ao passar uma patrulhinha na rua, os rapazes jogaram um pacotinho para dentro do jardim.

O Nick não se fez de rogado, abocanhou o tal pacotinho e zuniu pro quintal, sob as ameaças furiosas dos fumadores. Estando com a perna engessada e usando muletas, não pude correr atrás do cachorro. Portanto, quando cheguei, o peste já tinha comido mais da metade daquela ervinha fedorenta. Depois, dormiu por horas e horas, não acordava nem quando lhe abríamos as pálpebras e víamos aqueles olhos revirados e vermelhos... Acordou com uma ressaca terrível e bebeu litros e litros de água!

Pouco depois de completar um ano, resolveu fugir à noite para revirar umas latas de lixo. Acabou comendo osso de galinha misturado com veneno para rato. Desta vez, não resistiu. Para grande tristeza da família e dos amigos, morreu ao lado do canteiro de babosas. Mas continua inesquecível pra quem teve a honra e o prazer de com ele conviver.

Obs.: Esta croniqueta foi publicada no Correio Braziliense em 26 de novembro de 2006, sob o título "O Fumador", dentre outras selecionadas numa pequena série denominada "As melhores histórias sobre os piores cães do mundo!".

Maria Iaci
Enviado por Maria Iaci em 08/09/2009
Reeditado em 08/09/2009
Código do texto: T1799169
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