Do prelúdio ao cabo
Há palavras que não consigo dizer, talvez pelo fato de uma inesperada timidez esgotar todas as forças da minha determinação, ou talvez por um incrível medo que me abate tendo em vista a futura reação do ouvinte. Sendo assim decidi escrever o que sinto, pois o papel nunca se abala com uma eventual reação de fúria do leitor, mesmo que posteriormente sofra as conseqüências dessa fúria, sendo amassado, rasgado, ou, a pior de todas as torturas: esquecido… Espero sinceramente que essa reação não seja a sua.
Em meio ao que “tenho”, não encontro a completa felicidade, que parece correr entre meus dedos e em meus rabiscos. — Quem os vê?
Até já foi dito: “A vida é uma planta misteriosa, cheia de espinhos…, onde só abrem três flores puras: — Amor, Papel e Tinta”.
Chego a querer esconder a tristeza e me passar por bom ator, contudo, não sou tão resistente e me falta um epílogo; não que o queira agora; que arraste a dor sem ter visto o prólogo.
Sento-me à beira de um caminho que não sei onde vai dar e espero respostas que já me foram dadas, na esperança de que não sejam definitivas.
Minha vida se tornou um espetáculo montado e eu acho-me um mudo falando comigo mesmo sobre o coração que bate arranhado em meu peito e sobre o rio de lágrimas que, sem querer, apaga meu sorriso.
— Chega de representações. Os bastidores se fecharam!
Entretanto, eu lembro que a despeito de todas as forças arregimentadas contra mim, ainda quero muito me orgulhar de minha vida; ainda desejo alcançar meu pleno potencial, e é só por essa pequena chama de esperança ardendo em mim, que choro de vergonha diante de meus fracassos e de minha gradual decaída a um abismo comum de mediocridade e receio.
Pareço, às vezes, uma figura da Renascença; deslizando enquanto as mãos continuam erguidas procurando uma ajuda que nunca, ou quase nunca, é dada.
Daí, olho em minha volta e lembro que nossa coragem é que cresce de nossa pusilanimidade; que todo homem é feito e desfeito por si próprio. Assim aprendo que “Tudo” é atingível, se estivermos prontos a desistir, batalhar, sacrificar, correr…, a fim de alcançar, e são essas respostas paradoxais que me encantam.