Monólogo de um tosco culto

“— Perdão porque eu te escolhi para estar sempre ao meu lado e também porque eu acreditei que esse sonho poderia se realizar”.

“— Desculpa porque eu te perdoei quando, na verdade, deveria esquecer tua existência e desculpa também porque preparei meus melhores sentimentos pra ti”.

Foi assim que me despedi dela… e disse mais…

“— Estais livre Digníssima; quebrei teus grilhões, abri tuas cadeias. Sai do meu coração! Eu não posso nem quero te forçar a permanecer em minha vida”.

(Se achas isso patético, soou confrangedor para mim também).

Por fim ainda falei:

“— Desilusões vão e vêm, aparecem e somem. Por isso mesmo não posso te obrigar a me amar. Espero que minha desilusão se vá, suma juntamente com você”.

E agora que ela se foi, observo meu reflexo nas águas claras e enganadoras dos límpidos lagos do fútil caráter e do amor próprio que representei, e da autocomiseração que, inconscientemente tanto almejei, vendo neles o rascunho de minha vida.

Meus sentimentos magoados e meu coração cansado vão revivendo tudo aquilo que já passou e, assim, tento arrancar lições do sofrimento.

(Aprenda comigo essa dura emenda).

Dos meus olhos escorrem lágrimas por recordações frívolas e pensamentos mesquinhos que só me machucaram e me roubaram o sono tantas e tantas noites… não sei como ainda choro… a chaga já deveria estar cauterizada.

(Releve esse comportamento tosco que tão bem exprime minha situação).

Procuro lembrar de não lembrar dessas lembranças que tanto me martirizam.

Confesso-te, Confidente, que afastei-me do meu reflexo quando vi nele refletida a imagem d’Ela.