NÃO ESQUEÇA A TERNURA LÁ FORA...




 
Clara é o tipo de mulher comum que não chama a atenção das pessoas. Tímida como a garota que ninguém se recordaria em uma reunião de ex-alunos. E sua vida continuaria pálida, sem lágrimas sobre o leite derramado, caso aquele homem de olhos verdes e pequenos, não tivesse cruzado seu caminho.


O encontro foi fulminante e ele passou a ocupar um lugar vago em sua fantasia. Possivelmente, Clara desejava exibir-se como uma eterna garotinha, em busca do olhar aprovador de um pai que incentiva a acreditar em si mesma e em seu valor.


Por outro lado, a paixão dele foi tão simples quanto rápida, mas algo o mantinha ao lado dela. Talvez, vaidade ao personificar tamanha importância para alguém.


Naquela manhã, enquanto preparava o café, aguardava ansiosa sua ligação. Finalmente havia criado coragem e passou a frequentar as aulas de artes plásticas. Enviara sua primeira gravura para decorar a sala de reuniões do escritório. No momento em que despejava o leite fervido na xícara, as mãos tremeram com o toque do telefone. O desejo de ouvi-lo era mais forte que a ardência do líquido a queimar sua pele.


Ela foi direta à pergunta:

 

- Você gostou?
 

- Não tenho vocação para decifrar enigmas criativos.


No rosto de Clara o sorriso se desfez. Na pele, o leite derramado...






(*) Imagem: Google



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Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 08/09/2009
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