O BRASIL ESTÁ ÓRFÃO...
O Brasil está órfão. Este pensamento se mantém na minha mente há vários dias. Hoje resolvi colocar em ordem o caos das minhas idéias. Por que me surgiu assim, sem planejamento, esta constatação? Bem, vocês dirão, pensamento não pede licença prévia para se instalar, é incontrolável e surge sem se anunciar. Mas, todo pensamento deve ter uma causa que o puxa lá do fundo do cérebro, fazendo-o constar no nosso consciente. Portanto, este pensamento tem causas, sim. Ele vem, eu constato, do bombardeio de informações que nos dirigem todos os dias e que, muitas vezes, atingem o alvo. Aliás, na maioria das vezes, o tiro acerta em cheio na cabeça.
Se o pensamento surgiu e fez morada em minha mente, é porque (ainda) não estou alienada. Longe vão meus tempos de professora de História quando expressava e interagia idéias e fatos com meus saudosos alunos do Ensino Médio. Era um tempo difícil de se obter informações verídicas, fase da ditadura militar, o império da censura que podava a imprensa, os livros didáticos, os artistas, os professores de ciencias sociais. Mas lembro que, censura a parte, sempre conseguíamos, eu e meus alunos, furar o bloqueio a informação e pérolas de conclusões surgiam, resultado do nosso jeito crítico de fazer a Historia.
Hoje as coisas estão bem diferentes. A censura foi abolida, a tecnologia ampliou as informações e vemos os fatos no momento que acontecem. Terremotos, maremotos, quedas de aviões, furacões, revoluções, guerras, tudo está aí na frente de nossos olhos, de tal forma que nos parece estarmos in loco durante os acontecimentos.
Tudo bem, ótimo que a tecnologia permite isso. Mas, toda a medalha tem seu reverso e este, muitas vezes, é cruel. Acumulamos tanta informação diariamente que corremos o risco de nos acostumarmos com as tragédias e incorporá-las como algo natural do nosso dia a dia.
Este é meu grande receio: tornar-me insensível ao caos do mundo. Não posso, não quero e não vou me alienar! Não tenho mais o destemor e os sonhos da juventude, mas ainda sei escrever, sei gritar, sei distinguir as realidades (aquela que é e aquela que tentam nos impingir) e procuro fazer a minha parte. Não vou ficar calada... e se não tiver outras alternativas, pelo menos escrevo e tento repassar ao maior número de pessoas a minha revolta e a minha visão crítica dessas "estórias" que andam por aí, nos meios de comunicação de massa.
Não somos massa de manobra, não! Nós, intelectuais, classe média, temos o dever de alertar os menos favorecidos pela vida, porque sempre foi papel da classe média intelectualizada promover as grandes mudanças na História. Lembremos a Revolução Francesa que foi um marco divisor na História dos povos com seu lema "Igualdade, Liberdade, Fraternidade". Longe vai esse período provocador de tantas mudanças e, de repente me pergunto: será que esquecemos esse lema, esses direitos adquiridos a ferro e fogo por nossos antepassados? Não. Não aceito que tenham morrido. Mas constato que estão esquecidos, propositadamente, por nossos líderes. Líderes que nós mesmos elegemos....
Dizem que o povo tem o governo que merece... Talvez sim, talvez não. No caso brasileiro o errar na escolha é resultado da ignorância política a que vem nos submetendo sucessivos governos, que sucatearam a Educação, fazendo dela apenas slogan para ganhar eleição. A Educação, responsável pelo crescimento sócio-cultural do povo, vem sofrendo ataques, e com bala de canhão, há várias décadas. Não digo que ela morreu, pois é persistente, mas agoniza, infelizmente, na CTI. O descaso de sucessivos governos surtiu efeito. E o alvo foi certeiro: acertaram no coração dela, ou seja, diretamente no professor. Depois de tanto tiroteio, de guerras frias e quentes, vemos o professor desanimado à beira da miséria, as escolas caindo, conteúdos arcaicos, falta de instrumentalização e por aí vai. O combate foi tão cruel que após nocautearem a Educação Báica, atingiram também as Universidades....
E me volta o pensamento: o Brasil está órfão! Por que? Porque não temos mais uma liderança política que inspire confiança ao povo. O que vemos são sempre os mesmos atores, desempenhando os mesmos papéis, com o mesmo cenário! Isso cansa. O filme a gente já sabe de cor... Falta-nos um novo ator, um ser iluminado e carismático, honesto e comprometido, para nos tirar desse "déjà vu" de VIDA DE GADO. Será que não existe ninguém neste imenso País que tenha a coragem de denunciar, de fazer e trazer novas esperanças a esse povo tão sofrido? Será que teremos que desenterrar ou invocar os espíritos do Getulio, do Brizola, do Jango? Ou quem sabe buscar mais longe, no infinito das estrelas, um Rui Barbosa, um Tiradentes, um José Bonifácio?
Será? Triste constatação essa. Órfãos... Já me doeu tanto perder meu PAI para a espiritualidade, agora ainda tenho que me sentir órfã outra vez, porque não existe uma alma iluminada e comprometida para puxar o cordão da honestidade e da vergonha na cara. E eu tenho certeza que ese líder existe! Mas deve estar escondido ainda por não querer fazer parte de uma corja de bandidos e ladrões que graçam o Congresso Nacional. A sujeira é muita para para um homem só limpar e talvez ele tenha receio de se corromper, de ser levado de roldão pela corrente putrefata que a tantos já atingiu. Será que ele tem medo de ser uma voz solitária na multidão, de não ser ouvido na gritaria (ou baixaria) que enfeia o cenário político nacional? Será?
Porém, mesmo com essas dúvidas, termino esta crônica dizendo que acredito no povo brasileiro e tenho certeza que só nos falta esse líder para ser seguido e dar coragem aos fracos e oprimidos. Sabem por que? Porque o povão está cansado, o povão está desanimado, o povão está órfão. O Brasil está órfão!
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NA: "A mais bela de todas as certezas é quando os fracos e desencorajados levantam sua cabeça e deixam de crer na força dos seus opressores". (Bertold Brecht)