Diário de uma Coroa

06 de setembro de 2009

Muitas vezes imaginei esse diário, mas nunca me animei a fazê-lo. Quem sabe é chegada a hora.

Poderia começar por aquela frase que dona Cora costumava dizer, quando jovenzinhas ainda nos reuníamos em sua casa: “Quem casar com meus filhos levará as jóias da coroa”. A coroa era ela, e as jóias, seus filhos! Nenhuma de nós se casou com eles. No entanto, além dos meus filhos, tenho cá outras jóias guardadas na lembrança.

Já escrevi tanta coisa, começando por impressões, e confissões, de adolescente que acabaram todas indo para o lixo. Uma pena, pois hoje gostaria de ler o que é que me animava ou angustiava naquela época. Lembro que junto com as amigas ríamos muito. Por qualquer bobagem. E falávamos feito matracas. Trancadas no quarto, que era pra nenhum menino escutar. Além dos irmãos e primos, por lá circulavam rapazes da vizinhança. Justamente por isso, minhas amigas gostavam é de ir lá pra casa. O que agradava a gregos e troianos.

Nós falávamos de tudo, embora o assunto preferido fossem eles. E eles, reunidos na calçada ou na garagem, com mãos sujas de graxa, falavam de... carros! Modelos, corridas, Interlagos. Montavam e desmontavam motores. Tiravam escapamentos. E saíam em voltas pelo quarteirão rangendo pneus. Escondido dos pais, a dupla Águia e Pardal – meu irmão Paulo, mais o amigo Evandro – participava de corridas.

Tinha um rapaz, de apelido Rato, que por ali aparecia de vez em quando e palpitava. Seu verdadeiro nome era Emerson. Da família Fitipaldi, que morava mais acima, no mesmo bairro...