O CACETINHO DO PORTUGUÊS

- Alô, meu bem, chego por volta das oito!
- Tá bem, meu amor. Vou preparar um caldo!

E assim, Manoel, vigilante de uma padaria 24 horas, que trabalhara durante toda a noite, avisava Antonina a hora que iria chegar. Na verdade ele aguardava, há poucos metros de sua casa, no orelhão embaixo de uma marquise, a saída do Joaquim Narciso, o açougueiro da esquina, que sempre visitava a Antonina nas noites dos plantões de seu marido.

Quando ele viu o Joaquim Narciso sair, pisou na bagana do cigarro, voltou a padaria onde trabalhava, pegou um cacetinho que guardara para esse momento e se dirigiu calmamente para casa. Abriu a porta devagarinho e entrou sorrateiro. Passou pelo corredor à meia-luz e viu a porta do quarto entreaberta. Travesseiros ao chão, lençóis amassados. Manoel apressou os passos até a cozinha e viu Antonina de costas, que acabara de colocar o coentro e a cebola no caldo.

 

Com olhar desconfiado e ofegante, Manoel mostrou o cacetinho para Antonina, que, de súbito, indagou:

- Que susto!! Para quê isso, Manoel?
- Mulher, você já viu uma boa sopa sem um bom cacetinho? E põs a rir! kkkkkkkkkk

 

Ele se referia ao pão que trouzera para o acompanhmento da sopa, pois era gaúcho!