A Divina Comédia

Parece plágio do poema épico do poeta florentino Dante Aliglieri, que narra uma odisséia pelo Inferno, Purgatório e Paraíso ou a obra alegórica do cineasta brasileiro Glauber Rocha in “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, que retrata um povo sofredor, que vive em um sertão repleto de coronéis, padres, beatos, jagunços e cangaceiros, mas não é, apenas aproveitei o gancho, para discorrer sobre os SEM....Sem!!! o que mesmo?

Como já temos os Sem Terras, os Sem Tetos, os Sem Empregos, público é claro, os Sem Motéis, os Sem...etc., etc. acredito que o maior contingente desse país são os SEM ALTARES.

Estive imaginando: Por que os Santos(as) Católicos, na sua quase totalidade, foram e são de países ricos e abundantes? Não sei se outras religiões têm Santos(as). Como sou católico meia-pataca, vou fazer uma reflexão sobre os SEM ALTARES.

A condição “sine qua non” para ser Santo(a) pela Igreja Católica, é claro, é fazer o voto de pobreza. Só quem tem condições de fazer o voto de pobreza é quem tem condições econômica e financeira para tanto e, portanto, estes são somente os ricos. O pobre, pela sua própria condição, não tem como fazer o voto de pobreza; ele já é pobre, extrinsecamente, pela natureza e o único voto que pode fazer, ou melhor, o único voto do pobre é para eleger os já afortunados pelo destino, ou seja, os ricos, de novo!

Os ricos são “caridosos”, eles dão um pouquinho para os pobres e sempre esperam a retribuição “Deus lhe pague” e respondem “amém”, que quer dizer “assim seja” e, com isso, o saldo credor dos seus contas correntes celestial vai só aumentando. E, quando do seu passamento [o rico passa dessa para melhor], aí vem a recompensa : ele recebe a patente de “Santo(a)” e tem um lugarzinho garantido nos altares, para ser venerado pelos pobres.

Os pobres, apenas em vida são beneficiados pela “generosidade” dos ricos. Eu, pelo menos, nunca vi ninguém dizer a um pobre “Deus lhe pague”. E quando o pobre morre [o pobre morre mesmo, ele não passa dessa para melhor], como o seu contas correntes celestial apresenta saldo devedor e ele tem que saldar [queimar] os seus débitos no inferno tem direito, também, a receber a patente de “diabo” com efeitos pirotécnicos, isto é: cor vermelha, olhos esbugalhados, um par de chifre e um garfo enorme com três pontas.

Uma coisa que me intriga muito são os cidadãos da classe média, pois como não são ricos e nem pobres, o saldo dos seus contas correntes celestial deverá ser zero. Portanto, pela lógica, eles não têm que receber e nem pagar nada. Surge daí o seguinte questionamento: o que fazer com o cidadão da classe média quando do seu descanso eterno? Lembrando que ele, no caso, não passa e nem morre; ele dorme eternamente. Acredito que o único lugar dele é o Purgatório, pois lá ele ficará em água morna, sem experimentar as emoções de ter sido rico ou pobre, isto é, sem nenhum "glamour".

Assim, nessa divina comédia que é a vida, para que ela tenha sentido aqui e no além, o cidadão deve ser rico ou pobre, jamais remediado! Se remediado, por conspiração do Universo, não a seu favor, ele será um SEM ALTAR!

BENIGNO DE LIMA RIBEIRO

Auditor Independente

benigno@prospetica.com.br

Benigno de Lima Ribeiro
Enviado por Benigno de Lima Ribeiro em 07/09/2009
Código do texto: T1796754