FUGINDO DA SOLIDÃO ("Viajar só é necessário às imaginações curtas." — (Sidonie Colette)

Quero descansar, quem sabe ganhar mais férias, porque trabalhando está muito difícil ganhar saúde. Estou cansado demais desses que me pedem a vida e não só o dinheiro. Dizem que o mesmo esforço que um pobre faz para ganhar o dinheiro que precisa, o rico faz para segurar o que lhe sobra. Como provar isso? Quando procuram seu lazer. Porém, quem não trabalha não tem do que descansar. Portanto, agora faço minha a dúvida de Clarice Lispector: "Não sei se quero descansar, por estar realmente cansada ou se quero descansar para desistir".

O professor é um dos poucos profissionais que tem duas férias por ano. Mas, alguns não sabem aproveitá-las, e quem saberia preencher tanta folga e com o bolso vazio? Mesmo assim, viajam para o litoral; para o exterior, ou ainda para o interior do país, e pagam em muitas suaves prestações; porém quem diz que isso é viver promissor! O espírito de desforra do que folga não lhe assegura o alívio das duras penas e o jugo imposto do longo ano letivo, gastaram o que não ninham. Que pena, agora mesmo terminaram minhas férias do meio do ano e o que me restou depois da viagem foi a certeza da rotina que me faz pedir mais férias novamente, já na primeira semana de trabalho! Ah, se meu bônus fosse pelo menos outro recesso!

Os animais viajam somente por duas razões, e não pagam passagem: comida e procriar. Só o ser humano pobre trabalha o ano todo para viaja nas férias e se divertir; ou ainda para justificar a ociosidade: Não fiz isso e nem aquilo porque estava viajando. Um homem sábio só viaja para buscar, ou levar alguma coisa; já o tolo, para se divertir ou fugindo de algo. A única exceção permitida é quando viaja para o velório de seus pais. "Viajar é mudar o cenário da solidão. (Mario Quintana).

Já nem posso mais pedir aos meus alunos que façam aquela redação sobre as férias. Antigamente eles concorriam para mostrar quem desfrutou de melhores férias. De um tempo para cá, eles não viajam, não estudam, só nas redes sociais, encurtando as relações. Portanto, agora sou eu quem escreve a redação sobre as minha féria para mostrar que viajei amenizando assim o sentimento de lesado. Houve tempos, isso me tortura também até hoje, que planejávamos as aulas nas férias. Enquanto os alunos que ainda não conhecíamos brincavam. Agora "brincamos" enquanto eles planejam sua reposição de lazer eletrônico. Revelia! E eu novamente consultando o contracheque na internet para controlar os proventos. Nem todas Férias são boas e nem todas férias boas são úteis. Mas, sempre marcam um novo tempo. Disse Ovídio: "E amanhã não seremos o que fomos / nem o que somos". Enquanto isso, graças a Deus por ter um emprego para trabalhar!!!