O hipocondríaco

Era um rapaz bonito. Moreno, elegante, de barba bem cuidada. Casado. Professor de Economia. Um dia veio com a mulher morar no meu prédio. Depois de certo tempo de convivência, comecei a perceber que ele sabia o nome de tudo quanto era remédio. Para dor de cabeça? Porque não toma isto... É o fígado?... Tome tal coisa. Estômago?... E assim para cada pessoa que reclamasse, lá vinha ele com uma receita.

Fiquei intrigada. Para um economista, ele conhecia demais a Medicina. Um dia acabei perguntando a sua mulher se ele tinha algum problema de saúde. Imagine, ela respondeu rindo, ele é forte como um touro. Tem é mania de doença. Você nem imagina. Venha ver.

Levou-me até seu apartamento e abriu um armarinho. O que vi ali dentro era uma verdadeira farmácia! Então ela contou: de manhã ele toma comprimidos para o fígado. Antes do almoço, moderador de apetite. À tarde, um diurético e à noite, sei lá o quê... Qualquer dia vai ter uma intoxicação. E não adianta eu falar, ele é que está certo! Mas agora até que está bom, ele só toma remédios. Antes, ficava doente. Já teve hepatite, gastrite, úlcera no estômago, labirintite e chegou a ficar tuberculoso. Foi uma confusão danada. Nós ainda namorávamos e ele sumiu. Achei que tinha arranjado outra, nem sabia o que fazer. Depois é que me contaram da doença. Fui ver. Encontrei-o largado na cama, pálido e barbudo. Magro feito palito. Não queria saber de mais nada. Tive que convencê-lo a procurar o médico. Tirou radiografias. Não deu outra: pulmões em ordem, saúde perfeita. Era tudo na cabeça, já pensou? Sorte que eu fiquei sabendo disso antes de casar.

E agora, perguntei, ele não apronta mais? Não apronta por que eu não ligo. Até deixo que ele fique doentinho uns dias, mas nada de passar mal... Se começar a ficar muito ruim, ameaço interná-lo. Aí ele sara rapidinho.

Nisso a porta se abriu e entrou na sala o nosso Professor, corado e vendendo saúde. Cumprimentou-me e quando se aproximou da mulher, olhou-a assustadíssimo. Como você está pálida! Algum problema?

Antes de responder, a moça lançou-me um olhar de misericórdia e tivemos que conter o riso fazendo caretas. Ele não entendeu nada. Deve ter pensado que eu também estava doente...