Implublicáveis crônicos

Estava na lista negra. Não sabia. Uma, duas, três... nem mesmo ela conseguiria ser exata com relação as suas recusas. Pessoas e empresas diferentes.

Incapaz de desistir. Tinha na persistência sua maior qualidade; ironicamente, seu maior defeito. Obstinada havia rompido o elo com a realidade. Às vezes, os sonhos são monstros maiores que qualquer consciência.

Não poderia imaginar as relações do outro lado. Jamais cogitaria a existência de uma lista negra, onde seu nome constasse entre os primeiros. Não poderia saber que já havia um tempo que seus trabalhos não eram lidos, senão como boa piada em tempos de tédio.

Movida pela esperança de um dia ser descoberta e valorizada, seguia desenvolvendo seus trabalhos com o mesmo afinco e ilusão do início. Até o dia em que sua “vida de artista” –o protótipo perfeito, regado a muito whisky, ostentado por um estilo despojado e sustentado por muita droga -interrompeu sua vida, colocando fim a quimera nunca vivida. Overdose de inspiração.

Nada inútil ou vão. Imortalizada na lista dos impublicáveis crônicos.

Dominique Gasparin
Enviado por Dominique Gasparin em 06/09/2009
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