Amor em tempos virtuais
Ela chegou do interior cheia de recomendações. Na cidade grande, disseram, é preciso cuidado até com os vizinhos. Jamais tomar o elevador com desconhecidos. Andar de táxi, pode ser a última viagem. Nada de ficar à janela, até porque a janela dá acesso a um muro imenso com uma pequena nesga de sol. Namorar, nem pensar. Olha a AIDS, o latrocínio, o comércio de órgãos, o tráfico de moças para o exterior...
Imediatamente comprou um belo computador, já com internet para acessar o mundo, vários programas de entretenimento e cultura gratuita. Logo estava fazendo amizades nas salas de bate papo. Uma coisa leva a outra, passou da amizade à paquera, da paquera ao namoro seguro pelo MSN. A câmera de imagens não permitia a ninguém se passar por outra fisionomia, mas, claro, filtrava as virtudes que se queria mostrar.
Depois de risinhos rsrsrs, gargalhadas kkkkkk, orgasmos múltiplos, tudo fluía em clima da mais completa confiança.
Ele morava no Japão, longe de seu torrão natal, mas tivera a sorte de encontrar moça sincera, filha de fazendeiros, que há pouco passara a viver na cidade grande. Trocaram fotografias, imagens em câmeras, sobrenomes. Uma verdadeira sintonia de sonhos e interesses. Propôs-lhe casamento, depositou o dinheiro da aliança e marcou a data. Por economia, para que ela fosse depois morar com ele, resolveu casar por procuração. Tinha um primo que o representaria, naquele que seria o dia mais feliz de sua vida.
Ela tirara a sorte grande, pois logo iria morar no exterior.
O primo cumpriu o seu papel e gostou muito de encenar a cerimônia. Para completar a felicidade, convidou-a para um brinde em uma cobertura de aluguel. Que mal havia nisso, se o próprio noivo confiava inteiramente no primo? Chegando lá, entre uma taça e outra, ralação total. Tornaram-se marido e mulher. Ele, por procuração, é claro.
Esquecida das recomendações, repetiu o cerimonial de acasalamento por algumas semanas, enquanto o papo no “Chat” se tornara chato. De verdade. Ela engravidou e como ainda não há filho por “download”, teve que abrir o jogo com o corno distante. Já o primo, se revelou casado, desempregado, sem poder cometer o crime de bigamia ou sustentar alguém. A aconselhou a vender a aliança para resolver “o problema”.
Mas tudo bem, em tempos virtuais tudo se resolve facilmente. No seu país havia sido aprovada nova lei de divórcio pela internet.
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Obs.: Não tenho nada contra relações virtuais, apenas faço uma reflexão em cima da idéia dos amores virtuais, após ter lido sobre o projeto de lei de divórcio virtual da deputada Patrícia Saboya.
Ela chegou do interior cheia de recomendações. Na cidade grande, disseram, é preciso cuidado até com os vizinhos. Jamais tomar o elevador com desconhecidos. Andar de táxi, pode ser a última viagem. Nada de ficar à janela, até porque a janela dá acesso a um muro imenso com uma pequena nesga de sol. Namorar, nem pensar. Olha a AIDS, o latrocínio, o comércio de órgãos, o tráfico de moças para o exterior...
Imediatamente comprou um belo computador, já com internet para acessar o mundo, vários programas de entretenimento e cultura gratuita. Logo estava fazendo amizades nas salas de bate papo. Uma coisa leva a outra, passou da amizade à paquera, da paquera ao namoro seguro pelo MSN. A câmera de imagens não permitia a ninguém se passar por outra fisionomia, mas, claro, filtrava as virtudes que se queria mostrar.
Depois de risinhos rsrsrs, gargalhadas kkkkkk, orgasmos múltiplos, tudo fluía em clima da mais completa confiança.
Ele morava no Japão, longe de seu torrão natal, mas tivera a sorte de encontrar moça sincera, filha de fazendeiros, que há pouco passara a viver na cidade grande. Trocaram fotografias, imagens em câmeras, sobrenomes. Uma verdadeira sintonia de sonhos e interesses. Propôs-lhe casamento, depositou o dinheiro da aliança e marcou a data. Por economia, para que ela fosse depois morar com ele, resolveu casar por procuração. Tinha um primo que o representaria, naquele que seria o dia mais feliz de sua vida.
Ela tirara a sorte grande, pois logo iria morar no exterior.
O primo cumpriu o seu papel e gostou muito de encenar a cerimônia. Para completar a felicidade, convidou-a para um brinde em uma cobertura de aluguel. Que mal havia nisso, se o próprio noivo confiava inteiramente no primo? Chegando lá, entre uma taça e outra, ralação total. Tornaram-se marido e mulher. Ele, por procuração, é claro.
Esquecida das recomendações, repetiu o cerimonial de acasalamento por algumas semanas, enquanto o papo no “Chat” se tornara chato. De verdade. Ela engravidou e como ainda não há filho por “download”, teve que abrir o jogo com o corno distante. Já o primo, se revelou casado, desempregado, sem poder cometer o crime de bigamia ou sustentar alguém. A aconselhou a vender a aliança para resolver “o problema”.
Mas tudo bem, em tempos virtuais tudo se resolve facilmente. No seu país havia sido aprovada nova lei de divórcio pela internet.
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Obs.: Não tenho nada contra relações virtuais, apenas faço uma reflexão em cima da idéia dos amores virtuais, após ter lido sobre o projeto de lei de divórcio virtual da deputada Patrícia Saboya.