A Fala da Incultura: Porque os nossos avôs falavam assim?
Eu me lembro, de quando era criança – olha que não sou tão velho assim – e que via a minha mãe conversando com as suas amigas, usando verbetes que a língua portuguesa insistia em corrigir. Os linguajares usados por pessoas que na tinha um conhecimento prévio da língua portuguesa, e que essa língua insistia em colocar palavras difíceis de ser pronunciadas por eles. E que nós por passarmos a maior parte da nossa infância com eles ainda usamos esses verbetes, lógico que hoje eles têm outro nome no vocabulário universal e passaram a se chamar “gírias”, embora eu não concorde, tenho que admitir que ainda tenho saudades e ouvir as pessoas mais velhas conversando, e procuro sempre ficar perto de alguém que tenha mais experiência de vida do que eu.
Outro dia estava na casa de um desses amigos incomum, um senhor de 78 anos vizinho meu aqui em Itumbiara, foi fazer uma visitinha a ele que estava passando por problemas de saúde, em fim fui ouvir suas prosas do tempo em que ele era moço. E o interessante é que ele usa vocabulários do tempo dele até hoje. Eu tenho que ficar atento para decifrar o que está dizendo, por exemplo: ele da uma olhada para o céu e fala é hoje vai cair um “tubu” d’água, e nossa conversa continua, ele me conta de quando era moço e “trabaiava” na roça tinha que levanta cedo “trata dos porco, das galinha, pá depois ir pro curral tira leite, era uma labuta danada”.
Hoje quando nossos filhos encontram as pessoas com uma idade diferenciada da nossa e com uma cultura também diferente já quer logo corrigir a sua fala, a sua maneira de agir. Meu filho de cinco anos vive corrigindo a avó dele por que ela não consegue pronunciar o nome dele direito, ele se chama Hítalo Sérgio e a avó dele só pronuncia Ito, o Itin tudo bem, quem mandou a mãe dele escolher esse nome difícil? E o pior que nem minha mãe e nem o meu pai também pronuncia o nome do menino. A minha mãe fala “branquinho da vovó” meu pai fala “bolostrô do vovô” vê se pode.
Essa cultura popular é de tamanha importância pra nós que até hoje usamo-las para, por exemplo, passar medos nos nossos filhos. A minha mãe dizia que andar de fasto fazia mal, eu nunca fiquei sabendo de alguém que passou mal por andar de fasto, outro “mito” popular é a chinela “de brussus” (pra quem na sabe a chilena virada ao contrário), quando minha vó via uma dessas chinelas assim logo gritava “ocê qué que sua mãe morre! vira essa chinela logo menino” eu também nunca vi ninguém morrer por causa de uma chinela “de brussus”. E o que era legal é que agente obedecia com medo que isso realmente fosse acontecer. Outro coisa importante é eles tem um conhecimento grandioso no que diz respeito à meteorologia, observando as fazes da lua para fazer o plantio das lavouras, me lembro de quando agente morava na roça e meu pai dizia, “vamos prepara as foices porque ta perto de chuvê” e não demorava muito logo a chuva caia no chão.
Mais tudo bem, é sobre essa cultura popular que eu quero falar. A modernidade vem avançando e dizimando com as culturas populares em todo o mundo e se analisarmos, o nosso país vamos ver que não é diferente, quando ouvíamos os nossos avos dizendo, palavras inexistente no vocabulário, talvez não assustamos tanto, mais nossos filhos não vão entender que o hábito de falar errado deles não é fácil de ser mudado, por que vai mexer com o emocional deles, eles falaram errado a vida toda e nós não fizemos nada pra impedir, e se nossos filhos vão corrigi-los eles vão ficar “cabreiros’ com a idéia de que uma criança mimada na tem o direito corrigi-los.
Outro fator que implica mais ainda na maneira dos nossos antepassados falarem é que no tempo deles, principalmente os que viviam nas fazendas, foi justamente a formação escolar que fez a diferença na vida deles, por motivos óbvios eles não estudaram ou se estudaram foi pouco, no máximo dois anos escolares, ou mal aprenderam a escrever o próprio nome, eram desprovidos de qualquer tecnologia a não ser o rádio, quando queria ver TV ia à casa do patrão, algo raro porque nem sempre tinham coragem para ir até lá pra assistir TV.
O que temos de mais precioso e trazemos conosco no nosso dia-a-dia é a satisfação da lembrança de encontrarmos alguém que quer falar do seu passado, e uma coisa te peço, caros leitores ouçam o que essas pessoas tem a lhe dizer, você pode até não entender o que eles estão dizendo mais eles tem certeza de que você está escutando suas prosas, seus segredos, suas farras. Chegue ao seu avô e na sua avó, pergunte como foi sua infância, como eles se conheceram, e você vai se encantar com o que eles vão te dizer.
Use a cultura popular deles para entender a nossa cultura.
Leia e opine: Sua opinião é muito importante para mim.
P.S.Arantes.