VIRTUALMENTE REAIS

Temos hoje um universo paralelo, que participa e deles participamos ninguém que estivesse aqui, há 35 anos diria que teríamos este espelho cibernético, no formato que ele acabou se desenvolvendo. 1984(de George Orwell) passou e o único Big Brother é um reality show que acompanhamos em nossos televisores, mas não existiram previsões para a matrix que cada dia mais faz parte deste universo que coexiste em nossas vidas.

Num ligar de um botão nossos potentes computadores pessoais nos permitem atravessar as barreiras do universo físico e adentrar um universo virtual, sim virtual. Virtual? O que afinal é virtual? Um adjetivo que tem como sinônimos: factível ou potencial teórico; mas, principalmente, tem como antônimos: real ou efetivo. Mas ali esta na tela de alta definição e em mais cores do que podemos constatar o universo virtual, onde vivemos nossas vidas paralelas ou não.

Neste universo paralelo criamos os batizados avatares, nossas personalidades cibernéticas, mesmo que usemos nossos nomes de batismo ou mais politicamente correto, nossos nomes de registro de nascimento, ali renascemos - atire o primeiro mouse quem nunca se reinventou na internet – numa interação que chega a ser um vicio jogamos neste universo nossas mais secretas fantasias, (tá bem! você é uma exceção) e via de regra vamos fundo em nossas sombras e desejos, e somos imediatamente reconhecidos por toda uma humanidade que ali se expressa e mutuamente se reconhece, numa facilidade e transcendência emocional nunca vivida na vida real (eu escrevi: real! Lembrem-se, antônimo de virtual).

Ali temos o estado civil que re-escolhemos, peso altura, até fotos adulteradas ou reformadas, usamos, pois nosso físico ali pouco importa, não existe materialidade e, portanto, a noção é da virtualidade e mesmo as regras daqui que ali tentamos aplicar parecem não caber.

O melhor é a sensação de poder ser reconhecido, por esforços de vida, que na vida real e material nunca fizemos. Sim amigos de partes distantes do globo terrestre com os quais trocamos informações reais e serias, coexistem com amores e afetos que dizem morar em lugares remotos, mostram fotos que podem ou não ser, com historias e estórias que escolhemos acreditar.

Existem até os "fakes" (forma com quem são reconhecidos os falsos seres avatares, que não tem um correspondente físico real, mas são criados por seres reais), que também muitas vezes nos relacionamos, nos ligamos e ate passamos a coexistir na cyberespace de nossos computadores, universos declaradamente virtuais são construídos como divisão deste onde se pode ter um corpo virtual, escolhido em um menú ou cardápio de opções, e por ali interagimos com outros códigos de escolhas deste cardápio, formamos empresas, trocamos valores, passeamos e até nos apaixonamos.

Este, aqui chamado universo paralelo, tem absorvido cada dia mais as características do nosso mundo externo através de animações de três dimensões, já nos sentimos mais acolhidos neste universo, onde temos endereço próprio, até mesmo mais de um endereço, somos proprietários, donos, empreendedores, heróis, vilões, somos literalmente o que escolhemos ou fantasiamos ser.

Fico aqui imaginando como eu contaria sobre este mundo a minha avó, uma pessoa que viajava o mundo real por todos os lugares onde podia e tentava mesmo os que não eram possíveis, que hoje se pode visitar um museu em paris usando uma maquina e sem sair de casa. Será que tem a mesma força da visita real? Não claro que não, pensando bem não tão claro assim, talvez para minha geração isto seja claro, mas para a próxima e a próxima, talvez nem exista mais esta noção do que é real e do que é virtual - talvez Paris nem mais exista - e continuemos visitando seu museu, talvez este próprio universo paralelo passe a se auto-inventar e nós fiquemos ali, interagindo com o que será então realidade.

Aí este outro aspecto dos sinônimos de virtual, potencial e factível, a humanidade já espelha e interage dentro da virtualidade, a tecnologia e as pesquisas para expansão dos recursos de interação em rede são intensos e dispõem de recursos o que sabemos resulta em resultados quase certos, é apenas uma questão de tempo e estaremos literalmente inseridos dentro de nossa virtualidade.

Impossível? Nada mais me parece impossível. Logo, mas logo mesmo estaremos interagindo com este universo com todos os nossos sentidos, até hoje o comum e acessível a todos é uma interação pela visão de tela e o som que podemos optar por ouvir, imagine quando esta sensação entrar em nosso campo de inputs táteis, do paladar e olfativos, viveríamos conectados sem sentir falta de nossas vidas chatas e cheias de não reconhecimento e limitações físicas e faremos amor interuniverso, comeremos e viraremos uma mera extensão de binômios.

Será que este será um admirável mundo novo?

Um mundo onde interfaces meio orgânicas e meio eletrônicas nos permitirão viver em interação direta dentro da internet, com todos os nossos sentidos cognitivos. Não faço aqui uma critica negativa, apensa tento decifrar as tendências que observo na mudança de nossos comportamentos e hábitos, como absorvemos tecnologias e elas passam a fazer parte de nossa vida diária, claro que com aspectos positivos, por exemplo, o telefone celular, que é um telefone pessoal, não mais o numero da casa ou empresa, mas o numero de acesso pessoa a pessoa, que possibilitou a que todos portemos um verdadeiro centro de comunicação em nossa indumentária diária, pois ele cabe facilmente numa bolsa ou mesmo no bolso da nossa camisa, superando em muito a telefonia antiga, ele mais que estabelecer um contato de voz, hoje já permite troca de dados, imagens estáticas ou vídeos, musicas, e adivinhem através do que? Da Internet, novamente aquele nosso universo paralelo adentrando nossa vida.

Óbvio dizer que existem claros valores positivos agregados a esta tecnologia, uma comunicação imediata com nossa família é um deles, seja uma ligação da mãe que num toque consegue se acalmar falando com sua filha que foi a uma festa e demora a chegar, ou numa conversa via computador desta mesma mãe que conversa em vídeo e som com seu filho que resolveu se cangurizar e morar na Austrália, numa clara e benéfica diminuição da sensação de distancias entre pessoas que nos são tão caras.

Outro aspecto polemico porque atinge uma parte institucionalizada de nossa sociedade que resiste a perder o controle de seu potentado, mas que me parece ser muito positiva é a possibilidade de ensino a distância, possibilidade não, já uma realidade, onde todos poderemos ter acesso rápido e mais econômico a novas capacitações intelectuais, artísticas e profissionais. Claro que as instituições da área tem resistido a este novo parâmetro, mais por medo de seus ganhos e status serem abalados por esta tecnologia do que pelos resultados e baixa qualidade que eles proclamam como argumento. Baixa qualidade de ensino existe em nossa atual realidade e com certeza um dos aspectos mais positivos da virtualidade e sua evolução tecnológica é a potencia de levar informação e ensino a quem não tem acesso a ele.

Ah! Isto já tem até um nome bonito e que chega a ser inserido nas promessas dos políticos em suas campanhas, chama Inclusão Digital, pois quem ai não esta é excluído, não tem acesso a nosso universo paralelo e portanto não pode interagir com nossa nova civilidade.

O que é muito bom, até o momento ao menos, é que este universo tem suas próprias leis, não que sejamos isentos de respeitar as leis de nossos países, pois claro que a instituição de repressão já patrulha a rede atrás dos transgressores e isto tem seu lado bom com certeza, mas no sentido de que não temos fronteiras estabelecidas e as pessoas podem expressar suas posições e criticas ao mundo de forma a serem ouvidas mesmo quando uma censura autocrática é imposta sobre elas, veja o caso recente das eleições no Irã e a repressão feita pelo governo aos canais formais de comunicação, onde a rede virtual foi a melhor forma de informação ao mundo do que acontecia ali.

Enfim acabamos com as ilhas de isolamento, tanto da pessoa como individuo que pode se comunicar mesmo em movimento, como das comunidades e países que antes podiam ter suas fronteiras isoladas totalmente. Espero que a rapidez dos softwares da internet e, neste caso, os hackers cumpram sua função positiva que é manter a net fora do controle total de nossos “patrulhadores” ideológicos.

Infelizmente a possibilidade virtualmente expressa nas pesquisas formalizadas por governos e instituições é a de controlar, ao longo prazo, nossa rede de livre informação e, assim, controlar nossos avatares ou identidades virtuais. Tomara que sejamos capazes de manter uma resistência anárquica a este controle por muito e muito tempo.

Fazendo uma reflexão sobre tudo aqui exposto e os outros movimentos intelectuais que tem estado em discussão em nossa humanidade, ficamos otimistas quanto à continuidade de nosso universo, sobre o prisma de continuidade pura e simples existem valores como a consciência atual de que somos responsáveis cidadãos conscientes de nosso papel, na rede de interdependência, que é a civilização e a ideologia de sustentabilidade hoje inserida em nosso dia a dia - como a noção de reciclagem importância do voto e outras participações do individuo – podemos ter um otimismo quanto à forma de interação com este universo paralelo e olharmos este potencial futuro com bons olhos, mas vamos mante-los abertos.

Guilherme Azambuja
Enviado por Guilherme Azambuja em 05/09/2009
Código do texto: T1794158
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