Confidências parafraseadas
Como é grande a pressão exercida pela vida sobre mim. Não aparenta, mas o Mundo me cerca de indagações e insinuações que lá no fundo sei que são perguntas já respondidas por minhas atitudes e afirmações cautelosas daquilo que já conjeturo.
O vinho é para os tolos, eu, porém, sinto-me patético. O amor nos torna assim: ridículos, cômicos, deprimentes, loucos, ébrios, feridos e chorosos de coração. Meu amor próprio se dana quando me pede que veja minha Querida. Como queria que mudasse o pensamento e aspereza dela.
Que morram todos os outros com suas filosofias dramáticas, “brandas iras” e “temerosa ousadia”. “E assim darei vida a meu tormento; que, enfim, cá me achará minha lembrança sepultada no vosso esquecimento”. – Como me falta criatividade!
Plagiando Aluísio, d’O Cortiço, tudo é culpa da mais forte das fragilidades humanas, a mais heróica das fraquezas divinas, o mais diabólico dos anjos terrestres, o mais angélico demônio celeste: a Mulher! O conjunto do que há de Santo e do que há de tentação, amplexo do bem como mal, beijo de Deus no homem, lágrima doce e venenosa de piedade e ciúme, motivo do inferno, esse mesmo inferno e esse paraíso, essa mocidade, essa riqueza, esse tudo, esse nada, essa ilha desconhecida e perigosa com um labirinto chamado coração.
Escrevo olhando meia garrafa de vinho branco e uma taça vazia. Contemplo meu violão, contudo já é madrugada, não posso tocar.
— O tinto já acabou?!
Só eu vi o enterro dos meus sonhos, a lama é minha morada. Escarraram-me, porém, o beijo não deveria vir antes? Apedrejaram-me, todavia ninguém me afagou.
“Sobe-me a boca uma ânsia análoga a ânsia que se escapa da boca de um cardíaco”. — Acontece sempre que me embriago…
“O amor é o ridículo da vida. Procuramos nele uma pureza que está sempre indo, se pondo…”
Oh! Virgens Lânguidas e Castas, puras como um lençol úmido pela menorréia de uma meretriz; olhai a consciência e temi o Morcego. Na desesperação iconoclasta arruínem o ídolo dos vossos sonhos, assim como fizeram com minhas quimeras.