As Esquinas da Vergonha
Vivenciamos mais um momento que, sem dúvida, deixará marcas indeléveis na memória e nos arquivos da história da nação brasileira e, quiçá, em gerações vindouras deste povo já quase habituado a se expor aos pelourinhos da vergonha, da indignação e do aviltamento, cuja honra afunda-se, a cada dia, no charco formado pelas pisadas dos nossos representantes político-partidários.
Na verdade, neste país de dimensões continentais, não encontramos uma única esquina onde o carro-chefe das conversas e bate-papos “vira-e-meche”, mas sempre retorna ao tema corrupção.
Nos semblantes de nossos compatriotas destaca-se a perplexidade e até a descrença de que tudo isso seja efetivamente real. Corre-se o risco do agnosticismo em relação ao que acontece em nosso derredor (como é o caso de um humilde sertanejo ainda não crer que o homem foi à lua), tamanho o cinismo e a banalização dos princípios mais elementares que norteiam o trato com a coisa pública, praticados aos olhos da cara por alguns dos nossos eminentes parlamentares; pelos nossos “dignos” gestores, de qualquer que seja a instituição, autarquia, máquina de governo, enfim, no exercício de cargos ou funções.
E então? O quê fazer?
Ninguém decerto desaprovaria que os culpados – ainda que sejam apenas aqueles que ficam na parte externa do iceberg – devam ser identificados e “punidos exemplarmente...”. Mas isto já fora executado em escândalos outros de nossa vasta biblioteca de “casos arquivados...”. Urge programarmos medidas e novas posturas, mesmo que na forma de conta-gotas, visando ações que provoquem resultados ainda que de médio/longo prazos.
A principal - todos sabem - passa pela reforma radical e nova formatação da missão, dos meios e da execução do ensino no Brasil, que, de uma vez por todas, deve sair da condição de coisa acessória para objeto essencial, aí incluída toda uma estrutura secular, seja dos mecanismos materiais, estruturais ou filosóficos.
Não menos importante o açodamento na instituição e/ou avivamento dos formadores de opinião - da agregação de todos os valores e veículos sociais – (associações de classe, de bairros, encontros sociais, religiosos, suprapartidários, etc.), de maneira que todo esse “aparato” possa engajar-se e estruturar-se em caráter permanente e com o fito precípuo de averiguar e fiscalizar denúncias, boatos e comentários perniciosos aos cofres e à índole dos organismos nacionais e dos nossos egrégios cidadãos-públicos, coibindo a partir de sua origem a formação de novos grupos de pessoas ou instituições espúrias e corruptas.
Essa proposta, está claro, startaria parte significativa de nossa sociedade que, por tradição, tem-se revelado reativa, omissa e à espera que alguém faça alguma coisa...