O DESAFIO !

 

      Quase que ia me esquecendo de contar ! A verdade é que a conversa estava tão boa, tão animada e eu estava tão descontraído e alegre que quase me esquecia de contar.

      Não sei se acontece com todo mundo mas tem hora que estou tão bem, tão bem acompanhado, a conversa é tão boa, o chopinho e os salgadinhos estavam tão convidativos que não via o tempo passar !

      A verdade é que, só para ilustrar, a noite estava linda, uma belíssima lua cheia acompanhada de um majestoso céu estrelado, num ambiente super aconchegante, pessoas bonitas e alegres e aí, a um dado momento e pelo fato de ter comentado que tenho alguns amigos e amigas pelos quais mantenho o maior carinho e grande consideração, veio a pergunta fulminante, à queima roupa, seguida de um silêncio típico dos mais respeitáveis velórios.

     A pergunta foi a seguinte : “qual é o meu melhor amigo e qual é a minha melhor amiga ?”. Nem precisei forçar a barra pois me engasguei de verdade e depois de um pequeno acesso de tosse, alguns pares de olhos me olharam , esperando com grande expectativa qual seria a minha resposta.

     Naqueles olhares vi boa dose de curiosidade mas também de ciúme e, numa fração de segundo percebi a incrível armadilha em que  estava prestes a mergulhar  e de cabeça.

    Respirei fundo, forcei mais um pouquinho de tosse e o silêncio   continuava simplesmente sepulcral. A impressão é que até os clientes das outras mesas estavam olhando na minha direção aguardando que eu abrisse a boca.

     Realmente era como se o tempo tivesse parado. Eu estava encurralado. Sim, porque qualquer nome que eu mencionasse estaria agradando a uma pessoa e desagradando a várias e ali, naquela mesa e para minha surpresa, de repente minha resposta tornou-se algo tão importante que até os bolinhos que acabaram de ser entregues pelo garçom ainda nem tinham sido tocados.

     O silêncio continuava e a primeira solução que me ocorreu foi pedir licença para ir ao banheiro. Como éramos quatro casais, uma das mulheres presentes não se opôs a que eu me levantasse mas afirmou, entre dentes , que quando eu voltasse gostaria de saber minha resposta.

    Sou desses que acredita e defende ferrenhamente que a verdade deve prevalecer acima de qualquer coisa e essa era uma situação da qual eu não poderia fugir. Volto a repetir, não sei se acontece com todo mundo mas,  tenho poucos amigos mais íntimos e dentre eles, a grande maioria é ciumenta e alguns até, são bem possessivos.

     Portanto, se  abrisse a boca poderia magoar alguns dos presentes. E olha que não sou tão querido assim, imaginem se fosse !

    No banheiro, de frente para o espelho, tentei ensaiar e adicionar um pouco de rouquidão na minha voz. A estratégia era que, se eu estivesse muito rouco, com a voz inaudível, seria uma boa desculpa para fugir da resposta, que aquela altura, tinha se transformado num autentico desafio.

   Tem gente que é ciumenta, possessiva, gosta de ser o mais amado, de estar sempre em primeiro lugar no coração das pessoas. Convivo com algumas pessoas assim. Eu já sou um pouco diferente. Fico feliz em saber que gostam de mim, que me respeitam e já houve uma época que eu flutuava em nuvens de algodão porque tinha gente que era apaixonada por mim . Esse foi só um caso de apaixonite muito rápida, que passou no primeiro espirro e com os primeiros pingos de chuva , mas esse é outro assunto.

    Não podia ficar o tempo todo no banheiro e, ao voltar pra minha mesa teria que responder “quem era minha melhor amiga e quem era meu melhor amigo ?” Mais uma vez olhei para o espelho.

   Ele refletia a fisionomia de uma pessoa preocupada. De repente me ocorreu uma ideia. Quer dizer, eu teria que ser mais esperto que todos eles.

   Desfiz as rugas de preocupação, ajeitei a gola da camisa e me dirigi até onde estavam meus amigos, sereno e bem confiante. Sentei-me, pedi outra rodada de chopes e, enquanto me olhavam com certa expectativa , com um certo sorriso e olhar irônicos, disse a todos que a resposta não seria difícil.

    Novamente os pares de olhos me olharam, quer dizer, me fulminaram. Depois de duas goladas no chope e duas dentadas no salgadinho , com olhar bem descontraído informei a todos que a resposta era muito simples e que, não teria nenhum acanhamento em informá-los.

   Ninguém moveu um músculo e  continuei aparentando toda minha serenidade e depois de um certo suspense, informei que minha melhor amiga era a minha “paz interior “ e o meu melhor amigo era o meu “sono reparador”.

    Não adiantou, naquela noite a maior parte das despesas ficou por minha conta.....




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(.....imagem google.....)

WRAMOS
Enviado por WRAMOS em 04/09/2009
Reeditado em 18/02/2013
Código do texto: T1792339
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