O Outro Tipo de Morte
O Outro tipo de Morte
Pode-se morrer mais de uma vez? Muitos dizem que não. Eu, porém, digo que sim. E os leitores me perguntariam: como assim morrer mais de uma vez, ficou louca?
Na verdade não. Falo não da morte física – essa só ocorre uma única vez, mas das mortes interiores. Uma escritora do recanto chamada Wanda Wenceslau me enviou um comentário interessante: “Hari!, A morte não é a maior tragédia do ser humano, é pior quando algo vital dentro da pessoa morre enquanto ela ainda está viva. Essa morte é certamente a coisa mais temível e trágica." Daisaku Ikeda Perdi meu pai há apenas quatro meses, mas eu sofria mais quando o via vivo e sem esperanças”.
Você está certa Wanda. A morte física é um processo irreversível pela qual todo ser humano passará. Morreu, lágrimas (às vezes não), inúmeros sentimentos, perda... Não há mais o que fazer, a não ser chorar o que precisa ser chorado e seguir. Parece duro, mas essa é a realidade. Por mais importante que alguém seja (porque a morte não diminui a importância – tende até a aumentar) a vida seguirá o seu próprio caminho, e seremos obrigados, de uma forma ou de outra a continuar.
Porém, quando a morte acontece internamente, os paços vacilam e o caminhar se perde. Vemos constantemente pessoas que desistiram de viver porque permitiram que sua essência morresse. Pessoas que perderam a sua humanidade, que mais parecem monstros...
Muitos relacionamentos são desfeitos, porque são assassinados diariamente. A nossa atual sociedade vive a era do “mata-se” o que me atrapalha. Se para conseguir algo é preciso passar por cima do outro, mata-se a decência, a honestidade, a humanidade. Se para ter poder é preciso mentir, mata-se a verdade. O matar e o morrer passa a ter o mesmo sentido do roubar: tirar algo de alguém, tirar algo de si próprio.
Para entender melhor, a morte de um ente querido, transborda uma tristeza saudosa. Esta mesma saudade, que por vezes machuca, acalenta. As recordações, o amor e a fé que permanece intactos são os presentes que Deus nos dá para encontrarmos força para continuar. Entretanto, alguém que não sabe mais sorrir ou sonhar, porque deixou morrer em si a esperança e a fé, esta transbordará amargura, lamento. Invés de viver, simplesmente passará.
Esse é justamente o perigo, essa morte é certamente a coisa mais temível e trágica porque quando a morte física chegar, já não terá muito o que levar...
04 de setembro de 2009, Tx. de Freitas - BA