Do cabelo da Ana Maria Braga ao rebolado do Sidney Magal
“Se o comum da gente soubesse o gozo imenso que vem da arte, se a gente comum vivesse o prazer grande que é viver na arte, se a gente de todos nós despertasse para a libertação que vem da arte, se, quando e se e então pudéssemos renascer, viver mais uma vez com a consciência da vida anterior, ah, então saberíamos todos exaltar e ver e ser a felicidade que vem do artista”. (Urariano Mota)
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O que querem me dizer os deuses da beleza com o penteado da Ana Maria Braga e o rebolado do Sidney Magal: Simples!? O ridículo do ontem será o modismo do amanhã! E ainda, o atual “Fantástico” é a sombra do "Besterolismo" global hodierno, com alguns resquícios de boas informações, onde pensa, essa parte do quarto poder, agradar ricos gregos e favelados troianos – afinal, papagaio que fala e cigano que rebola convence até intelectual de carteirinha.
O que me incomoda na noite, que guarda desgraças e venturas do dia, é saber que se julga tudo sem o todo entender. E o tempo, que a tudo e a todos devora, nos alcança com seu ensinamento medieval: “O homem não pode dar a si próprio nem sensações nem idéias, recebe tudo, a dor e o prazer lhe vêm de fora, como a sua existência.” Vejo tudo muito perigoso, porém tudo muito necessário – e assim me vou livrando do ridículo do ontem, sem me “papagaiar” com o modismo do amanhã.
Nesse atual modismo intelectual – ser cult virou moda -, o inútil se manifesta com novas roupagens; muitas delas adquiridas por pupilos de universidades pagas, ostentadores de roupas e cabelos multifacetados – muito mais maquiagem que enfarda, menos conhecimento que atrofia. Pior que isso, só o erudito sobrevivente das intempéries da vida – seca, fome... miséria! – , enclausurado na egolatria da sala de aula com ar-condicionado, cabeleira bem penteada e bolso recheado do soldo do modismo de colégios particulares. Entrava, assim, seus conhecimentos aos menos privilegiados, sobreviventes do ensino público; correr risco p’ra quê!? Esse é um rodízio inevitável: o círculo pequeno, cedo ou tarde, rodará dentro do grande círculo.
“E tudo passará... e alguns passarinhos.” No vôo rasante da soberbia, onde plana diferenças sociais, o vento leva o choro da criança carente, com fome e sem livros – dupla morte: do corpo e da alma! E as rugas contemplam lembranças de seu corpo outrora pavão – quando imberbe, não olhava as tristes pernas e vivia do esplendor ilusório do passageiro conhecimento de um outro modismo, ora ultrapassado – E tudo andará... e alguns andorinhas!
Analisemos, então! Se éramos garboso pavão, e agora nos induzem - através do Besterolismo intelectual - a sermos, simplesmente, “nada”... prefiro voltar a ser a velha ave; com um detalhe: de pernas pro ar! A esquelética maturidade de boas leituras sobreposta à ilusória penugem passageira, ora maquiada com clichês televisivos, iludindo filhos de boas famílias: sem boa vontade de livros.
Quero ver meu conformismo chegar aos setent´anos metamorfoseado com um pouco do urubu: ultrajado mas consciente da busca da limpeza do meu (i)mundo; sem pedantismo intelectual nem contrariedade às performances do cantor/bailarino Sidney Magal; pois este veio apenas provar que o mundo é gay; e que carro popular não é transporte para intelectual soberbo.
Enquanto isso, muitas escolas do ensino público - sem vela e sem prumo –, vão naufragando nos despojos sociais do modismo passageiro, rumo às redes dos pescadores políticos, famintos de ignorantes almas.
Ave Santa Rosa Madalena!
Até mais ler, pelos descasos intelectuais da vida!