O Encontro de Dois Meninos Especiais
Pedro e José são dois meninos que vivem em mundos diferentes, entretanto nada os impedia de serem amigos. Nos primeiros momentos de conversa que tiveram, a primeira impressão foi a de que o tempo se encarregaria de fortalecer os laços que se formavam.
Pedro nasceu com limitações e por esse motivo tornou-se um cadeirante.Enfrentou muitas barreiras, ou seja, várias formas de preconceitos, mas sempre demonstrou coragem e capacidade para vencer. Tem apenas doze anos de idade, não conheceu o pai biológico, sua mãe por não poder criá-lo deixou-o com uma família, mora numa cidade grande, freqüenta escola particular, tem acesso a tudo que uma grande metrópole pode oferecer. Pedro já sofreu horrores... O sofrimento tem diversas faces, dizia ele, eu sei o que é sofrer.
José tem a mesma idade, mas é um menino sem nenhuma expectativa de um futuro luminoso. Sua família foge do padrão: a mãe tem muitos filhos, todos são criados na rua só voltando para casa para dormir. Vivem pedindo esmola ou ‘pegando’ tudo que encontram pela frente. Embora José tenha se esforçado para sair desse círculo vicioso, quando a fome aperta o negócio é sair atrás do rango,e se for preciso chega até a roubar.
A chegada de Pedro naquele Encontro de Crianças chamou a atenção de todos, mas acostumado a olhares tirou de letra esses primeiros momentos. Depois de saudar os ouvintes mirins, Pedro falou de suas experiências, limitações e sonhos. José parecia em estado de choque, a presença daquele menino na cadeira de roda mexeu com ele de uma forma que não sabia explicar.
Com as outras crianças não foi deferente. Acostumados a reclamar de tudo, perceberam que deveriam ser agradecidos, e que mesmo quando chegassem os dias difíceis não deveriam entregar às rédeas. Aprenderam que a vida era muito preciosa para deixá-la passar, lamentando e murmurando por coisas que não podemos mudar. Descobriram que deveriam sim, tirar proveito do muito ou do pouco que tivessem, sempre olhando para frente.
Fim da palestra. Espaço para troca de idéias e início de futuras amizades.
As primeiras palavras saíram com dificuldade, mas Pedro rompeu a timidez de José perguntando coisas que todo menino naquela faixa etária gostava de fazer: vídeo game, bicicleta, programa de TV, futebol, etc. O papo rolou fácil e as horas passaram rapidamente.
Não ficou só nisso, prometeram continuar em contato, acreditando que nascia ali uma amizade que perduraria. Mas havia algo para ser quebrado: José não se achava digno da amizade de Pedro. Ele não sabia que não existe impedimento quando duas pessoas desejam ser verdadeiros amigos e que a amizade é algo tão precioso que quando surge entre duas pessoas,ela deve ser cuidadosamente preservada para que dure a vida toda, pois quem encontra um amigo encontra um tesouro.
Depois de muita conversa, troca de cartas e um presente, uma camisa, que Pedro mandou para José. Passaram a acreditar que poderiam ser grandes amigos. Para José o maior e mais bonito presente que já recebera na vida. Para Pedro, um gesto de carinho e zelo por seu novo amiguinho, pois percebera que esse só tinha uma muda de roupa para sair de casa.
Cinco anos passaram-se.
Hoje, embora Pedro tente chegar perto do coração de José, esse já não tem o coração aberto para o amigo de outrora. José deixou a escola, se envolveu com droga, novas amizades contribuíram para que trilhasse caminho de mais dores e pesadelos.
O contrário aconteceu com Pedro. Por acreditar nos seus sonhos Pedro está preparando-se para prestar vestibular, deseja continuar superando suas limitações. Pedro escolheu a vida.
José deixou que vozes contrárias sufocassem seus sonhos, acreditou que não era especial, que não poderia vencer. Embora não tivesse dentro de casa um modelo onde pudesse se orgulhar, durante sua caminhada surgiram oportunidades onde havia um abraço lhe estendendo a mão...
José optou pela morte.
28/08/09