UMA QUESTÃO DE NOME
Informo aos leitores que pretendo mudar de nome. Vim saber que um sujeito com o mesmíssimo nome que eu está sendo procurado pela polícia da Chechênia. O sem-vergonha teve coragem de abusar da cheche... , digo, da honra de uma chechênia. A mulher teve trigêmeos e está pleiteando pensão alimentícia. Como é que vou provar que não passei as últimas férias na Chechênia?
Aliás, se tiver que pagar três pensões, o polpudo salário que recebo para publicar toda semana essas mal traçadas não será suficiente.
Sabe como é, se lhe prendem em lugar de alguém, pode levar anos até conseguir provar que você é você e não o outro. Quem sabe esse meu xará chechênio ainda tenha dívida com algum bicheiro, aí posso amanhecer placidamente deitado num matagal. A vantagem é que não poderão mais me cobrar pensão nenhuma.
Meu nome deve ter se originado de um acesso de grandeza de meu pai. Já naquele tempo eram famosos os Hilton, donos da cadeia de hotéis; um deles, Nick Hilton, foi marido da Elisabeth Taylor. Papai deve ter me prognosticado um belo futuro. Errou feio.
Para evitar nomes muito comuns, fui consultar um “nomenólogo” (ou, em linguagem popular, onomasiologista). Ele me ouviu com aparente desinteresse, como se meu problema fosse bastante comum, e me disse de cara, com a rispidez e autoritarismo de alguns profissionais:
– Sugiro Parmênides!
– Mas doutor...
– Seu problema é subjetivo. O fato de portar um nome diminuto repercute no seu ego, fazendo-o sentir-se inferior – e já pegou papel para assinar o diagnóstico.
Mesmo sabendo que meu problema era bem outro, não quis contestar sua bela teoria, e falei que achava Parmênides horrível, preferia Sugiro, se não fosse tão, como direi... nipônico.
Então ele abriu um livro e passou a me relacionar alguns nomes que provavelmente iriam satisfazer meu ego: Pardoval, Percifrônio, Ocidentino, Malutrincho, Honestácio, Dermicídio, Abedenago, Soletrício e por aí vai.
Confesso que não gostei muito. Como teria coragem de assinar uma destas crônicas com o retumbante onomástico de Dermicídio? Parece coisa de criminoso, eu não iria cometer esse dermicídio. E Soletrício? Com certeza, nome de analfabeto.
Para simplificar as coisas, resolvi não procurar mais. Fico mesmo com José da Silva. Pelo menos, se os chechênios me procurarem vão achar uma multidão.