Ali ninguém era um Guga

Naquele grupo, um maranhense, outro carioca, uma alagoana e eu, paulista, pensávamos mais em praticar um esporte ao ar livre do que aprender realmente a jogar tênis. Tomar sol, queimar umas gordurinhas e nos divertir um pouco era tudo o que queríamos. Só que disto nosso professorzinho nem desconfiava e exigia que fizéssemos tudo na perfeição. Ninguém conseguia, é evidente, e acabávamos caçoando de nós mesmos, um imitando os gestos desastrados do outro.

Mas Fábio não achava graça, chegou mesmo a nos castigar. Quando perguntava se havíamos compreendido algum movimento, o carioca logo dizia “a cabeça entendeu direitinho, mas o corpo, ó, vai demorar...” Se errássemos, tínhamos que dar três voltas correndo em torno da quadra.

As aulas aconteciam aos sábados logo cedo e certa vez, ao chegar atrasada, fui repreendida. Não gostei, pois minha semana era presa a horários rígidos, mais do que para os outros mortais. Em colégios, o dia é todo picadinho: 7h55, 10h25, 13h42, 15h34... Ali eu estava para me descontrair, não para levar bronca.

Não sei se o rapaz entendeu, se alcançou a gravidade do assunto. Nesse mesmo dia ele não parou de chamar minha atenção. Olhe os movimentos, levante a cabeça, vire os pés, a ponta dos dedos, a raquete, a bolinha... Fui perdendo a paciência e, num dado momento, resolvi abandonar a aula. Para melhor expressar minha raiva, levantei a raquete e comecei a andar a passos largos.

Todos, inclusive quem estava nas quadras vizinhas, pararam espantados, pensando que eu ia dar uma raquetada na cabeça do instrutor. Era isso mesmo que eu gostaria de fazer, mas consegui me controlar a tempo. Cheguei bem perto dele e perguntei, furiosa:

_ Você fala francês?

_ Eu não! ele respondeu admiradíssimo. Por quê?

_ Pois EU falo!!!

E saí pisando duro.

Os colegas vieram atrás de mim com aquela história de deixa disso, vamos lá... O próprio Fábio pediu desculpas e me convenceu a voltar para a quadra. Voltei e tudo terminou em risadas. Os nordestinos brincalhões até sugeriram que eu desse umas aulinhas de francês para o nosso querido professor. Que tal?

(1995)