O mundo do circo
O mundo do circo
O mundo do circo era um verdadeiro encantamento para mim; trapezistas, palhaços, animais ferozes e tantas outras atrações, assim como, as peças teatrais do final do espetáculo. Primeira parte, palhaços e saltimbancos; segunda parte, trapézio e domadores; terceira parte, teatro. Falava-se muito bem do Circo Olimecha, de tradicional família circense, onde havia um palhaço chamado Tomé, que era o fino do humor. Havia nas matinês, os programas de calouros infantis, onde eu e minha irmã gostávamos de nos apresentar para ganhar uns trocados, sempre na convicção de ganhar o prêmio máximo, o que nunca ocorreu comigo. Minha irmã sempre abafava. Algumas vezes, eu cantava em festas e recebia um dinheirinho que dava para uns doces. Uma vez dividi os dois mil reis de premio com a outra concorrente, que arrebentou com uma valsa que Gilberto Alves cantava, chamada Adeus. Na ocasião, eu cantei uma música ainda não gravada e que eu já decorara, pois, costumava paquerar as rodas musicais do Café Nice, reduto tradicional da boemia do rádio. Um fato curioso a registrar é de que, além dos artistas, as esposas também freqüentavam e futricavam a vida alheia. Se o caso ficasse sério, eu acabaria no rádio como cantor, e terminaria por aprender a cantar como aconteceu com Ciro Monteiro, Moreira da Silva e outros que não tinham voz. Era uma época em que brilhavam Francisco Alves, Orlando Silva, Gilberto Alves, Deo o ditador de sucessos e, na ala feminina, Dircinha e Linda Batista e Araci de Almeida; naquela época, o Silvio Caldas ainda não era o caboclinho querido. Voltando ao circo. Eu ficava alucinado de vontade de assistir ao espetáculo; geralmente, procurava o encarregado da promoção, da publicidade do espetáculo, para promover entrega de prospectos em troca de um vale para o espetáculo. Outras vezes, eu ficava amigo dos porteiros entrando sem pagar; aliás, era uma tradição do circo, fazer amizade com os jovens da vizinhança que, muitas vezes, acompanhavam a troupe circense. Esse fato confirmaram em entrevista, os professores da escola de circo da Praça da Bandeira. Muito emocionantes eram os shows com artistas de rádio, como o próprio Ciro Monteiro e sua mulher Odete Amaral, cantora gordinha e afinada, Araci de Almeida, sempre um grande sucesso com sua voz fanhosa, Jorge Veiga e outros. Eu tinha preconceito, porque dizia que Chico Alves o rei da voz não se passaria para cantar em circo. Numa ocasião, num circo que estava na Abolição, levado por um primo, aceitei segurar um cesto de balas e outras delícias, para entrar no circo, depois de alguns minutos devolveria o cesto e ficaria lá dentro. Devolvi o cesto de balas, bombons e chocolates; isto me dá cacife para dizer, com um pouco de demagogia, ter sido um pobre e humilde baleiro em minha infância. baleiro, bala, bombons, chocolate... era o refrão que se tinha de falar alto, nessa ordem, para atrair freguesia. ainda bem que eu não tive sorte no mister; hoje, poderia ter prosperado com um tabuleiro de chocolates na Tijuca.