PÓ E CHUVA

Nos limites da cidade, depois das últimas casas e da cerquinha de arame, há uma mata de cerrado em que brilham os ipês com suas maravilhosas flores amarelas.

Durante todo o dia ali cantou o sabiá, chamando a chuva.

E esta veio, no final da tarde, precedida pelos ventos. O pó, assentado no chão das ruas, subiu rapidamente aos ares, formando uma imensa nuvem vermelha, dentro da qual desapareceu a cidade, como desaparecem as edificações egípcias nas tempestades de areia do Saara.

Nenhuma casa ficou ilesa, embora as pessoas corressem a trancar portas e janelas. A poeira entrou por todos os buracos e frestas existentes, sujando o piso, os móveis, os lençóis das camas e as cortinas.

As crianças sujaram-se brincando na cerâmica das salas e os adultos coçaram braços e pernas, em agonia.

Após esse ataque furioso dos ventos, a chuva desabou em meio a uma sucessão ininterrupta de relâmpagos e trovões.

Um raio caiu ao longe. O negror da noite ficou ainda mais intenso quando, após uma breve oscilação, a luz apagou-se por completo.

Cachorros uivaram nos quintais, presos às suas correntes e encharcados pela chuva. Bebês choraram nos berços ou aninhados no colo das mães. E todos, em todas as idades e tamanhos, olharam assustados pelas janelas, sussurrando orações.

Horas depois a chuva diminuiu, passou a chuvisco e cessou de vez.

Aos poucos as nuvens foram se retirando, e num céu já completamente limpo apareceu a lua, clara e cintilante.

Com a volta da luz, as pessoas apressaram-se em pôr a vida de volta à normalidade, indo dormir tarde, após limparem a sujeira causada pelo pó e pela chuva.