É assim a tua liberdade?

Quando Pedro completou dezoito anos, gritou:

- Agora sou livre pra o que der e vier!

Seus pais emocionados lhe presentearam com um automóvel, seus amigos enfim, poderiam contar com sua presença nas excursões da faculdade, podia freqüentar festas até altas horas da madrugada, já possuía cartão de crédito independente, agora podia sair com as gatinhas na curtição, beber e fumar o quanto quiser... Sentia a liberdade fluir em seus pensamentos.

Esse sempre foi o anseio de Pedro e de todos os jovens, em todas as sociedades, de todas as épocas. Algo cultural que é alimentado ansiosamente pela juventude e que, grande maioria vêem, nessa possibilidade de liberdade, uma forma de descompromisso com a boa conduta.

Pedro agora era livre, pelo menos no seu comportamento. Sentia-se no comando dos seus desejos, de suas vontades. A única coisa que pensava era, justamente, em ninguém ter que pensar ou se preocupar. Os conselhos, as broncas, as imposições não faziam mais parte da sua nova vida. Pertencia ao mundo, quando não, o mundo o pertencia.

- Hoje eu sou mais eu e outros tantos quantos eu quiser!

Os muros, as paredes, as leis, a família, nada mais o incomodava. Não havia mais controle sobre seus atos. À noite passou a ser sua amiga inseparável, cujo divertimento passou a ser o vandalismo e o crime.

E, em meio o excesso de “liberdade”, tornou-o um ser antissocial, refém do seu próprio ego, da sua irracionalidade humana, de dever, do direito e das obrigações, longe do convívio harmonioso com a sociedade e ninguém. Mediante a sua não afirmação social e de caráter moral, passou a ser vigiado pelo sistema. Mais adiante foi punido pelos seus atos deixando entender que essa liberdade idealizada a qual construiu, é uma visão distorcida da realidade da sociedade. Faulcaut diz que o homem moderno, cuja condição distribuída socialmente, deve viver sempre sob a vigilância e a punição, seja ela; pelo controle do corpo; cada qual em seu devido lugar; do tempo, ao controle das nossas atividades o tempo todo; e das gêneses,das nossas aprendizagens a aptidões.

Pedro não suportou esse acondicionamento, adoeceu mentalmente “loucura” e, dentro do seu mundo surreal, tenta encontrar respostas para o seu aprisionamento no mundo das realidades.

Segundo os conceitos filosóficos, liberdade pode ser vista de maneira negativa, a ausência de submissão, de servidão e de determinação, isto é, qualifica a independência do ser humano, ou de maneira positiva, liberdade na autonomia e na espontaneidade de um sujeito racional. Isto é, qualifica e constitui a condição dos comportamentos humanos voluntários.

Enfim, tudo aquilo que Pedro sonhou e acreditou ser liberdade, ainda que parecia, nao era. Achou que conhecia, mas, pela falta de bom senso e sabedoria, se perdeu profundidissimamente, naquilo que todos sabem como devem ser, mas ninguém explica.

Sérgio Russolini - Prof. de Língua Portuguesa e Filosofia.

Sérgio Russolini
Enviado por Sérgio Russolini em 03/09/2009
Reeditado em 17/08/2022
Código do texto: T1790044
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