A noite

A noite é, fatalmente, a incerteza da esperança. Aqueles que, como nós, são deuses da escuridão, esperam, a cada dia, que ela verta seu esplendor eternamente; ela há de desfazer-se, porém. Como pó que é, cruzará o nosso universo, pelo rasgar do dia, e deixará, se muito, um longínquo vagar na lembrança. Uma denotativa espera de uma lado; uma conotativa espera de outro – só que a noção do tempo, em nossas cabeças, estará, certamente, ligada à essa última. E, ainda assim, esperaremos nós que ela nunca vá: somos a incerteza da esperança, somos a noite. Esperamos, assim, que ela nunca se vá...