óleo sobre tela-Lisy Telles

O Pão das quartas-feiras

Minha avó dizia: não há sábado sem sol, domingo sem missa e segunda sem preguiça.
Resolvi então, que: quarta seria dia de fazer pão. Por que quarta-feira? Porque quarta está no meio da semana; elo entre a preguiça da segunda e o sol de sábado. Hora! Um pão caseiro sempre trás boa energia. E o que faço, não é um pão qualquer: branco, pobre. Não! É um pão substancioso: pesado, feito com farinha integral, açúcar preto (mascavo para os mais entendidos), castanha do Pará, germe de trigo, linhaça, e outros grãos que estiverem ao alcance. Fazer pão, para mim, é mágico. Desde a levedura: quando o fermento se derrete em contato com o açúcar, e ao misturar um pouco de farinha e água, todos os microorganismos ali existentes, despertam e começam a se multiplicar formando uma esponja pronta para receber os demais ingredientes. Para isso, entretanto, é preciso deixar a mistura quieta, sossegada, resguardada do vento; como o desabrochar da vida... E tudo acontece ante meus olhos. Uma alquimia! Nesta hora, dança a minha volta: minha avó, minha mãe, a preta velha dos quitutes; todas em busca de compartilhar da magia da transformação, presente há séculos na alimentação da humanidade.
Agora será preciso sovar e amassar, transferindo para a massa: energia, amor, alegria e satisfação por conseguir participar de um milagre.
Massa pronta é hora de deixá-la descansar em local livre das correntes de ar. Minha mãe chegava a cobrir a massa com cobertor. Certa vez ela resolveu fazer pão de mandioca, aipim, macaxeira; o nome varia conforme a região deste nosso Brasilzão. Bem, a massa rendeu tanto, que ela, minha mãe, foi obrigada a colocar uma das formas em cima de uma cadeira, coberta com cobertor. O pior foi que não vi e acabei sentando em cima. Imaginem a bronca que levei.
Voltemos ao pão das quartas-feiras.
Após descansar, de uma o duas horas, coloco no forno, que já foi pré-aquecido. Quarenta minutos no forno, e o aroma começa a se espalhar pela casa aguçando os sentidos. Mais um pouco e lá está o Pão tostadinho. Pesado sim, mas crocante!
É chegada a hora do lanche da tarde. Este é um pão para se tomar com café coado a maneira tradicional: coador de pano, água quase fervendo, derramada lentamente sobre o pó. O uso de margarina, ou maionese é um pecado. No Pão da quarta-feira, somente é permitido: mel puro, manteiga verdadeira ou geléia caseira.
O cheiro do pão atrai os que passam...
A preguiça de segunda já ficou no esquecimento. Estão todos em busca de saborear o Pão das Quartas-feiras, na esperança de um sábado de sol.
Convido a todos os amigos a me fazer companhia neste dia.

Hoje, quarta feira, 16h
Lisyt


 
Lisyt
Enviado por Lisyt em 02/09/2009
Reeditado em 18/07/2014
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