AMIGOS FEDORENTOS
Vocês se lembram daquela novidade em termos de brinquedos infantis, ocorrida faz pouco tempo atrás, quando surgiram na praça alguns bonecos fedorentos, dos quais emanava uma catinga insuportável? Uns até arrotavam, outros peidavam ... e assim por diante.
Felizmente, como toda idéia maluca, durou pouco e a coqueluche passou. Mas, enquanto durou nós outros, pais e avós, sofremos na carne com tal novidade, pois a mídia deu força, a criançada ficou ouriçada e a turma dos fedorentos invadiu os lares de todo o país, de norte a sul, empestando quartos e salas com os seus odores esquisitos.
Meu neto Guilherme, cinco anos, sapeca como ele só, também curtiu essa fase e teve, entre os seus brinquedos favoritos, os tais amigos fedorentos.
Estava passando suas férias escolares em nossa companhia, quando surgiu, numa tarde, vindo de um shopping com seus pais, trazendo um boneco fedorento que já chegou empestando a casa toda.
O pior é que ele não largava nunca o seu novo amigo e acabou se tornando mal cheiroso também, de nada adiantando os longos banhos e esfregaduras que a sua mãe lhe dava. Coisa horrorosa!
Um dia sua mamãe, já cansada de tanto cheiro de “pum” dentro da casa (manhã, tarde e noite), pegou o brinquedo e o jogou por cima da arca da sala de jantar, cuidadosamente embalado em saco plástico.
No dia seguinte, o Gui chegou choramingando e, com aquela sua carinha irresistível, indagou-me:-
“- Vovô, você viu meu amigo fedorento? Ele sumiu ... Procura ele pra mim, vovô?”
Olhei para a Dona Mari, penalizado. Ela sorriu e balançou a cabeça, assentindo.
Daí a pouco esperei o Gui sair da sala e peguei o fedorento. Quando ele tornou, mostrei-lhe o boneco:-
“- Olha aí, Guilherme! Achei o seu amigo, tá legal?”.
O meu neto abriu um largo sorriso, abraçou-me e pegou o brinquedo. A seguir, deu-lhe a maior cheirada que eu já tinha visto e gritou, a plenos pulmões:-
“- Ôôôôba ...Que delícia! ...”
-o-o-o-o-o-