INSANAS INTERROGAÇÕES?
Estranho mundo esse em que vivemos... Não vim ao mundo a passeio, mas nas horas vagas debruço-me a janela e fico a observá-lo... Há coisas que jamais vou entender...
Por que rodeios se o assunto é sério? Por que mulher que gosta de sexo é puta? O sexo frágil que gosta de sexo é ultrajado, denegrido pelo preconceito? Ou puta é elogio?
Denegrido? Por que ninguém diz embranquecido pelo preconceito ou esbranquiçado? Boa pergunta?
No dicionário lê-se que denegrir é tornar negro, manchar, macular, não é? Consta também que macular é sujar, certo? Embranquecer é simplesmente tornar branco ou esbranquiçar, concordam? Manchas brancas não existem? Ou são manchas desejadas e boas? Os portadores de vitiligo que o digam...
Partindo do princípio que o branco pode ser ausência de cores, então o preto pode ser definido por saturação das mesmas? Seria absurdo associar o sentido de denegrir a colorir? Seria sim... Não fica tudo mais bonito colorido como o arco-íris?
O que é o sexo frágil? No dicionário, frágil é fraco, quebradiço, sujeito a delinquir... Então, sexo frágil seria insulto? Já nos presumem delinquentes? E o delito seria aquele que torna os homens mais machos?
Ou será que eu pirei e o termo puta é um elogio? Não pirei não!
Pirarucu, se não fosse peixe...
Todos os homens gostam de sexo ou essa generalização também é burra? Ou seria esta a exceção que confirma a regra? Ou alguém já presenciou um homem a admitir que não goste? No mínimo não é homem, não foi o que você pensou? Deduzindo por simplória analogia: mulher que gosta de sexo é puta, então, todos os homens são putos? E o que não é puto também não é homem, correto?
Grande confusão, não? No dicionário, puta é meretriz, rameira, prostituta, confere?
Puto, no dicionário, é menino, criança, filho... Já sei que você vai conferir, mas não demore, ok? Não perca a linha de raciocínio.
Por que não consigo olhar com bons olhos para a palavra puta ? Por que não consigo perceber um sentido elogioso?
Voltando às putas frágeis... Obviamente, refiro-me às mulheres que apreciam o sexo com liberalidade. Entenda-se liberalidade no seu exato sentido, não confunda com libertinagem, vadiagem, promiscuidade. A tão necessária liberalidade que confere dignidade para alguns, não escapa aos olhos preconceituosos da maioria. Para estes, são todas umas putas mesmo... E vão para o mesmo balaio da licenciosidade.
A infidelidade masculina já é cultural, banalizada pelas mais variadas justificativas, que não pretendo questionar. É coisa de macho, sexo forte, certo?
E a infidelidade feminina justifica-se da mesma forma? Mas elas não são o sexo frágil? Não deveríamos ser mais condescendentes com o frágil sexo? Não seria perfeitamente natural e aceitável que, em face à fragilidade, necessitem dar uma lustrada no ego? E também necessitem contabilizar quantos ainda podem conquistar? A fragilidade não explica a necessidade de afirmação e a ânsia de conferir o poder de sedução das lindas madeixas?
Bem, se o sexo forte não resiste, o frágil resistiria? Biologia?
São frágeis, não são? Frágil o escambau!
Frágil é a nossa inteligência quando convive e permite que hediondos preconceitos continuem a existir. A pior das ironias é que os homens apreciem mulheres que gostam de sexo, desde que com elas não tenham nenhum parentesco. Minha mãe, minha irmã, minha esposa e minha filha são diferentes? Quantos praticam o que mais gostam justamente com a desqualificada, a perdida, a de segunda categoria, aquela que chamam de puta? Puta deve ser tomado como um elogio, desde que não parta do meu pai, irmão, marido ou filho? Qual o sentido disso? Devo ser pura em casa e puta na rua?
É cultural, dirão muitos... Quando a cultura é estática, transforma-se em reles e equivocada imitação de folclore depreciativo. Ou não?
As sociedades humanas evoluem, progridem, crescem, mudam seus costumes e hábitos e com eles sua cultura também não muda? A cultura de um povo é dinâmica na mesma proporção de sua evolução?
Não é aviltante classificar preconceito como cultura?
Será que todas, inclusive mamãe, vovó e a bisa, em nenhum momento gostaram de sexo, mesmo que secretamente? São frágeis e humanas, não são? Muitas não admitiram nem para si mesmas, outras nunca se perdoaram por isso, mas que gostavam, gostavam. Então, somos todos parentes ou filhos da puta?
Até mesmo as próprias mulheres criticam nas outras aquilo que gostariam de fazer e não tem coragem. Insanidade pura?
Piorou, não é? Somos filhos da puta e hipócritas?
Insanas interrogações? Pirei? Pirarucu, se não fosse peixe...
* O conceito de cores propositalmente invertido, que passou despercebido inicialmente e que agora é alvo de tantos emails, foi um recurso utilizado para gerar algumas das poucas interrogações insanas do texto.
Set-09