A BATALHA DO HELIÓPOLIS

Tirésias subiu na lotação com destino ao Sacomã às 6:05 da tardinha de ontem; precisava chegar a tempo no terminal para pegar o outro ônibus que o levaria até a Vila Delfos, onde participaria de um encontro de profetas sobre toda essa questão do mundo acabar de novo em 2012.

A lotação seguia seu caminho, quando Tirésias sentiu a presença do mensageiro ao seu lado.

- Mercúrio, meu querido! Que bons ventos o trazem?

- Eu já te falei, seu velho cego, que meu nome é Hermes!

- Grego ou romano; palmeirense ou corinthiano; somos todos Filhos de Zeus, meu caro mensageiro!

- Mãe Maia, dai-me paciência! - suspirou Hermes - Olha, velho! O negócio é o seguinte: um grupo de Polifemos fechou as estradas para o Heliópolis e estão devorando ônibus, lotações e cavalos. Eu te avisei que trocar a Grécia por essa terras estrangeiras era um perigo.

- Tanto faz o lugar na Terra, meu caro mensageiro, todos os lugares desse planeta são abençoados. Sim, eu já sabia que esse transporte me levaria até os ciclopes; só não sabia que eles atacariam antes da madrugada, afinal, milhares de pessoas estão voltando para casa, incluindo aqueles que prestam as devidas oferendas a Poseidon. Obrigado pelo aviso, mas preciso ver com os meus próprios olhos até onde a selvageria humana pode chegar para defender o que pensa ser justo, mesmo que para isso precisem cometer tamanha injustiça com essa pobre população que nada tem a ver com as flechas perdidas da eterna guerra entre os homens de Odisseu e os polifemos.

- Ah, velho gagá! Se não fosse pelas ordens do meu Pai, eu já teria te abandonado há tempos.

- Somos todos peças desse jogo Divino, meu caro mensageiro, a diferença é que alguns podem ver os dedos de Zeus nos movendo e ajudá-Lo com esses movimentos; e outros optam por permanecerem cegos, mesmo que consigam enxergar.

Contrariado, o mensageiro desceu da lotação sem pagar a tarifa; o que deixou o cobrador revoltado e o motorista alterado.

- Esses malditos carteiros! - reclamou o motorista - Nunca pagam a condução!

Quando finalmente, a lotação chegou à Estrada das Lágrimas; o fogo já cobria as ruas do Heliópolis. Ciclopes com o rosto coberto por panos e usando tochas e pedras, queimavam tudo que viam na frente; a população corria assustada, enquanto os homens de Odisseu se aproximavam com lanças e escudos.

Tirésias desceu do ônibus e caminhou até a Igreja de Santa Edwiges; e lá orou a Métis para lançar a terra mais prudência entre os homens de Odisseu e por fim, rogou a Atena que a ira de Hera que comandava as ações dos ciclopes acabasse em sabedoria e paz.