Eu Teria Errado... (humor - causo)
Conversávamos sobre uma crônica minha. Mais especificamente sobre um trecho da crônica que ela não havia entendido. Eu a provocava:
- Mas, loirinha! Tá na cara que eu quis dizer isso...
E ela retrucava que não. Que era obrigação minha deixar o texto mais claro.
Claro que deixamos a discussão render, mais pelo prazer da celeuma do que por discordarmos realmente uma da outra. Eu sabia que ela tinha razão. O escritor tem que se fazer entender, como emissor da mensagem. E ela, adepta de textos poéticos, ricos em jogos de palavras, às vezes sem muito sentido para quem não a conhece muito, muito bem, sabia que ao escritor também é permitido optar por não dizer nada, desde que o faça de forma bela. Como pintura abstrata, eu diria.
Reescrevi o trecho pouco claro. Ela aprovou:
- Ah! Agora sim.
- Mas, agora, você já tem ciência do contexto, do recado que eu queria passar. Está lendo o texto com os meus olhos, sua crítica perdeu o valor.
Ela concordou, rindo, e fomos pedir uma terceira opinião.
O fato é que, se o escritor não quer apenas encantar, mas contar ou convencer, ele precisa mesmo fazer-se entender por outros olhos, para identificar os pontos falhos de sua mensagem. Escrever, narrando ou argumentando, é uma forma de comunicação e, para que esta ocorra, é necessário que emissor e receptor compreendam a mensagem. Porém, é importante que o leitor também esteja atento e procure ler nas entrelinhas as muitas mensagens do autor. Às vezes, mesmo num texto aparentemente "totalmente arte abstrata", haverá um recado, uma informação preciosa que não deve ser ignorada. Identificá-la e compreendê-la é uma arte.
Para encerrar a conversa, esta minha amiga, Zélia Freire, escritora laureada, imortal da Academia de Letras de Natal, contou que, de vez em quando tem seus textos usados em livros didáticos, vestibulares e concursos públicos. Às vezes, quando seu texto é usado em provas de interpretação, ela observa, surpresa:
- Eu teria errado a metade...