DIÁLOGOS MODERNOS - TELEFONE PRETO
Tinha um telefone vermelho na Casa Branca e outro no Kremlin, prontos para dar o aviso de guerra nuclear. Qualquer ameaça de um dos lados, EUA ou Rússia, o lado ameaçado pegaria o aparelho, discaria um número e pronto, estaria iniciada a guerra nuclear que poderia destruir o planeta. Diziam cada um dos donos do mundo que tinham capacidade de destruir a terra seis vezes com uma explosão atômica. Como se precisasse mais de uma... Será que já usam celular com GPS para localizar o alvo?
Do lado de quem estava numa boa paz, começaram a se popularizar os telefones residenciais que faziam um triiimmmm audível a um quarteirão de distância e sem regulagem de volume. Um aparelho preto bem charmoso, mas com peso de uma marreta. E uma roda numerada de zero a nove para discar.
As primeiras coisas de impacto na vida da gente, não costumamos esquecer. Lembro do primeiro carro de mau pai, um fusquinha azul cuja placa era FP-2703. O telefone lá de casa era 3353.
Quem já nasceu na era do celular nem consegue imaginar a gente indo à central telefônica, entrar numa cabine de um metro quadrado e solicitar à telefonista, devidamente paramentada com um fone de ouvido em forma de concha e esperando meia hora até duas horas, dependendo do lugar para onde ia ser feita a ligação. A sensação que se tem hoje é que tínhamos que esperar as ondas sonoras viajarem de ida e de volta (de ônibus) para se conseguir estabelecer a comunicação.
Eu achava pura ficção aqueles filmes americanos de 007 ou do agente 86 em que os personagens tinham telefones nos carros. E nós ainda aqui com o telefone preto. Pesado! Só depois fui saber que o Brasil absorvia s tecnologias obsoletas dos países do primeiro mundo, como aqueles navios cheios de lixo que os ingleses nos mandaram outro dia, dizendo ser material reciclável.