VISITA DE MÃE
ANTES QUE ELA ME DESERDE, DEIXA EU MANDAR
LOGO UM BEIJO. UM XERU, MÃE QUERIDA!
Está sentado meu amigo? Então lá vai!
Já reparou como é engraçado quando a gente recebe a visita da mãe? De cara, a pretendente a nova nora, sabendo que ela vai falar bem da antiga namorada, diz logo: Já vem sua mãe me perturbar o juízo. Não sei porquê, minha mãe nem é psicóloga. Se fosse, isto aconteceria.
Minha querida mãezinha – que Deus a mantenha viva por muitos anos - mora a quase dois mil quilômetros de distância de mim. É uma pessoa especial e agradabilíssima. Nunca tive outra igual. Falo com ela por telefone, religiosamente, toda semana. Mas ela se angustia pela distância e, uma vez a cada dois ou três anos, se impacienta, raspa o dinheirinho guardado com muito custo na caderneta de poupança, pega um asa dura, cruza os céus do país e vem me visitar. E ainda trás uma reservazinha do tal dinheiro, escondido num bolso secreto dentro da calcinha, pra gastar comigo. Se fosse psicóloga, isto não aconteceria.
Quando desce do avião e me vê vai logo dizendo: Meu filho, como você está gordinho! Tá parecendo filho de ladrão quando o pai tá solto. Precisa fazer, urgente, um regime. Que regime é este, eu não sei. Ela se dana a fazer aquelas comidas de antigamente, mas como perdeu a noção dos temperos, o engasga lobo, geralmente, vem carregado no sal ou na pimenta do reino. Minhas partes baixas começam a dar sinais de uma hemorródia iminente. O peixe, coitado, morre duas vezes; uma quando é pescado e outra, afogado numa frigideira cheia de óleo. É uma ma-ra-vi-lha! Se fosse psicóloga, ela não faria isto.
Mãe é um bicho danado pra gostar de mala, não é? Pois minha mãe coitada, trás logo umas quatro! Duas com roupas normais, uma com sapatos e outra com roupas de inverno. Onde moro só esfria quando sopra uma frente fria vinda da África, ou seja, nunca. Os termômetros daqui começam a marcação de vinte e cinco graus em diante. Os fabricantes, por medida de economia, retiraram a parte inferior deles porque não servia pra nada mesmo. Mais ela sempre diz: pode ser que o tempo mude, meu filho. Se fosse psicóloga, não diria isto.
Mãe adora conversar com meus amigos e vizinhos. Traz sempre uma foto minha quando criança e mostra a eles. Geralmente ela pega uma onde estou banguelo ou com os cabelos cortados em formato de cuia. Se durante a conversa ela não falar sobre meu passado, incluindo aí as ex namoradas, a prosa não foi boa. Toda mãe é assim mesmo, não é? Mas se fosse psicóloga, não faria isto.
Somente ela sabe fazer o melhor café, separar a roupa mais bonita pra eu vestir, e escolher meus melhores amigos. Colocar os móveis da casa nos lugares certos, indicar Faustão como o melhor programa da TV e por último, faz cumprir a mais cruel de todas as regras; nunca, mas nunca mesmo, deixar que outra mulher se aproxime de mim enquanto ela está ao meu lado. Se fosse psicóloga, não faria isto.
Nesta altura do texto, o leitor já encafifado, me pergunta: que bubônica é essa de, "se fosse psicóloga não faria isto, se fosse psicóloga não diria aquilo"? É nada, não vou explicar já. Minha mãe é uma leitora assídua dos meus textos. Aí eu coloquei isto pra quando ela ler achar que estou ficando ruim da mente. Como eu sei que ela vai ficar preocupada, com certeza vai querer me levar numa psicóloga e me mandar fazer uma terapia. Aí meu amigo, quando ela pagar o tratamento -ando meio quebrado nos últimos tempos - finalmente vou poder frequentar o consultório da Dra. Iracema. Ela tem uma secretária chamada Cláudia que eu sou doido por ela. Além disso, aproveito e fico sabendo como funciona cabeça de mãe.
Às vezes, quando penso que ela está com raiva de mim, ela passa dois ou três meses em minha casa. Quando penso que está gostando da estadia ela arruma as malas e vai embora com quinze dias de visita. Não entendo nunca minha mãe.
Quem sabe se ela fosse psicóloga né?