PLANTÃO DE POLÍCIA 1
Conversavam descontraidamente quando o rádio faz uma chamada: "Atenção, viaturas próximas à parada de ônibus tal e tal..., deslocar para local de acidente!".
Era final de tarde, o ocaso da noite, pelos raios sumiços do sol que se escondia, e a pintura no céu mesclava as cores do amarelo queimado entre as pretas nuvens, tendo ao fundo um misto de azul escuro e negritude.
Chegando ao local os policiais ouviram incialmente gritos de horror e clamores por Deus, de uma multidão que presenciou um triste acidente. Disseram tratar-se de uma van que desgovernada atingia nove pessoas: uma família de imigrantes, errantes, esmolavam nas ruas sem perspectiva; uma mulher negra que aparentava cinquenta e quatro anos, mas que nos documentos constava vinte e seis, ladeada por seus cinco filhos, cujas idades possivelmente escadeava em onze, nove, seis, quatro, dois e um bebê que estava no colo da mãe. As outras três pessoas eram passageiros esperando condução. Um deles era um rapaz cego, mais ou menos vinte e quatro anos, que escutava música, conseguiu viver algumas horas, pois teve a perna amputada. Os outros dois eram um casal de meia idade que acabaram de sair de uma loja de departamento, pois estavam com sacolas em seus braços e cujos conteúdos, roupas e utensílios, revestia-se da cor púrpura que se misturavam à poça de sangue que corria ao lado. Estavam juntos, quando o marido, num ato de insólita procura, arrastando-se, debruçou-se sobre o corpo imóvel, gélido e desvalido da esposa morta. Reclinou sua cabeça sobre o cadáver da esposa e, num suspiro, cerrando os cílios, esvaiu-se sem vida. Espedaçados, esmagados contra a parede fria do lugar. Todos mortos!
Os passageiros da van, ilesos, saíram para juntar-se à população que chorava o desalento de tão trágica cena. O motorista desapareceu na multidão, fugindo, por certo, do infortúnio da condição em que se encontrava. Nunca mais foi visto. A sirene dos bombeiros, com o ruído ao fundo, aproximava-se pouco a pouco.
O semblante tristonho das pessoas, em simbiose com o sentimento de revolta, insinuava a inevitável pergunta: “Por quê?”