Esperança, ainda que tardia

Esperança, ainda que tardia.

O médico falou a única frase que ele não queria ouvir. O pai, não é o pai. O DNA foi implacável com a esperança de Pedro. Eu tentei entrar na pele dele e sentir a perda.

Quantos sonhos foram por terra com o veredicto do exame. Durante meses, quantas vezes ele deve ter ensaiado o que diria ao pai. Contar da procura por ele, dos temores de não encontrá-lo, das noites mal-dormidas pensando no dia em que estariam lado a lado como pai e filho. Dos choros ao lembrar dos tempos vividos com a mãe e da falta que ela lhe faz. Da saudade que sentiu dele mesmo sem conhecê-lo. Ele podia sentir os carinhos do pai no rosto e no coração. O pai ficou este tempo todo como uma figura na moldura, sem rosto. Em destaque, idolatrado, mas não vivido. A saudade do que não foi e do que poderia ter sido. A falta da falta.

Agora entendo o ditado popular – a esperança é a última que morre - porque depois dela, não sobra mais nada, acabou. Ficou a dor, a perda, a saudade da saudade, o vazio. A falta de não ter. A inveja de quem tem. O medo da solidão.

E como tudo que não é vivido, passa para o terreno da imaginação e da ficção. Como eu teria sido feliz, eu teria tido outra vida, os natais teriam um outro sabor, certamente, não seria tão tímido. Não seria tão carente. As viagens teriam sido mais interessantes. Talvez tivesse feito engenharia, ou quem sabe direito? Ou quem sabe teria sido político, como ele?

Com certeza, teria sido feliz.