ARAUTO
Gosto de tudo o que é claro: janelas, roupas, dia e palavras. Odeio metades, pedaços, restos. Suporto tempestades, ventanias e rotinas, mas morro diante da hipocrisia. Meu talento é brigar com o mundo para ser o que sou de verdade e não meço as conseqüências de ter meu próprio caminho.
Lamento os dogmas, preconceitos, medos de romper leis sem sentido, daquelas que colocam correntes na alma. Minhas asas não são podadas e mesmo com o céu cinza, vôo quando tenho vontade de voar.
Não acredito em meias verdades e em “achismos” que não são fatos. No meu dicionário, verdade significa amor.
Abomino palavras frívolas que se espalham pelas vielas, como lama de esgoto. O mal se dissimina como vírus nas veias de quem se permite acolhe-lo.
Meu peito está nu, sem vergonhas ou falsos moralismos e admito a esquizofrenia fadada da carência, que impregan meus movimentos com rotulada chatice. Dos meus lábios soltam flores e porcos e os meus pés já andaram em ruas sem decência. Pouco importa os defeitos se o meu coração se mantem vermelho escarlate diante de tudo o que se move.
Meu tempo é agora, minha vida pode ser um livro cheio de letras enfadonhas, mas nunca resumido em resenhas. Traço meu caminho a lenha e vou pelo avesso, só para não enjoar.
Perdôo mágoas, grosserias e injustiças e propago que todos podem ter mais uma chance de acertar o alvo, até quando o alvo é o próprio pé. Os tiros saem pela colatra, as palavras voltam como tapas na cara e um gesto nunca fica impune.
Permaneço com os pés na areia quando a onda bate forte e leva as pegadas. Ainda quero as coisas claras, sem rodeios, mesmo quando dá medo de acender a luz.