Sofia
Meus sobrinhos arrumaram um cachorrinho. Um mesticinho de poodle com algum parente distante de labrador. É bonitinho, o sem vergonha. Serelepe, agitado e buliçoso como todo filhotinho deve ser. Perguntei o nome. Meu irmão precipitou-se, respondendo antes da filha:
- Sofia!
- Mas, Sofia? Como você dá o nome de Sofia a um cãozinho macho?
Minha sobrinha riu:
- O nome dele é Zé. Papai é que chama ele de Sofia.
- Anhé? Por quê?
Antes que eles tivessem a chance de responder, o Zé se abaixou e começou a fazer xixi. Meu irmão, ainda tentou impedir:
- Sofia da puta! Aí, não!
Mas já era tarde... O bichinho se aliviou, indiferente aos apelos, o líquido amarelo já se espalhando pelas frestas da cerâmica.
- Olhaí, Ju! Vai limpar! - disse meu irmão, enérgico.
Ela, deu de ombros:
- Eu não! Agora é a vez do Nando. Nandooooo! O Zé fez xixi aqui.
E este, respondendo de lá, sem tirar os olhos da TV:
- Já vou... Deixa só dar o intervalo.
Meu irmão olhou para mim, enquanto jogava duas folhas de jornal por cima da pocinha:
- Entendeu agora, porque é Sofia? Só chamo este cachorro pra dar bronca... É Sofia disso, Sofia daquilo...
- É! É um bom apelido. - concordei, rindo.
- Que apelido, que nada! É o sobrenome... Dos três!