TERRITÓRIO DA INFÂNCIA

Escrevo compulsivamente; se não pudesse exercitar a escrita, a vida não mais teria sentido.

O novo é dádiva benfazeja: recria-nos.

Acho que tenho algo a deixar para a posteridade, mesmo sabedor de que o Brasil é um país que lê diminutamente nos livros impressos. Os custos proibitivos, a falta de livrarias em muitos rincões do país e a conseqüente falta de hábito e outros tantos vetores consomem a cabeça dos lúcidos.

Enquanto isso, vamos registrando na internet as impressões do passar do tempo. Sabes como é: veterano sempre tem algo a rememorar, porque ninguém chega impunemente aos mais de 60 anos.

Que bom que sentes os meus textos. Na verdade, em Poesia, os olhos são mais do coração do que da cuca. Mas são eles que levam a mensagem aos neurônios cerebrais, para que haja a tradução das sensações vividas, havidas, ou inventadas para acalentar os sonhos.

Bem podes notar, já estou fazendo criação literária. Este vício é a minha maçã do amor. Enquanto o parque de diversões estiver rodando o tabuleiro do circo de cavalinhos ou a sua imensa roda gigante, o menino em mim não morrerá.

Em verdade, os poetas nunca deixam de ser os clowns do território de invenção. Nascem (e vivem) como crianças, mijando fora do colo da mãe só pra chamar a atenção.

Mesmo que alguns anos mais tarde, exasperados com tudo aquilo que cheira à injustiça e à falta de amor ao ser, sempre tenham um flamejante gume na mão. O mesmo fio de espada (aprisionado) das ruelas da infância nas lutas contra os medos.

Porque a inocência não está no ato, e sim na concepção amorosa com que se o cria. Somos o picadeiro do circo, os outros viventes são o público espectador.

A eles é necessário o riso para que a vida não se resuma na pavonice e no engodo. Rir não é desafio fácil pra quem conhece o mundo e suas mazelas.

Talvez, por isso, a liturgia do sagrado apresente o Cristo como o menino Salvador. O do sorriso fácil, como todo aquele que bate às portas do futuro. Deixado de ser infante, a imagem é a do sofrimento...

Os poetas sapecam-se neste terreiro. Sem idiopatias.

– Do livro O HÁLITO DAS PALAVRAS, 2008/2009.

http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/1785091