MAIS UM DIA QUATRO
O frio passou despercebido e a manhã deixou de ser sombria quando o sol me aqueceu por dentro e por fora.
Continuei entretida a te ver dançar ao som da filarmônica de teu primo pelo lado materno, aquele que não vias há mais de trinta anos. O reencontro o afetou de tal maneira que ele prometeu derrubar os aviões para que nunca pudéssemos voltar para casa.
O filme de nossa viagem esperava por um momento como o de hoje. Os meses já passaram um sobre o outro, amenizaram a dor de tua partida, há um ano atrás.
Ainda assim os olhos umedeceram ao te ver sorridente e feliz, às pressas expulsei a tristeza da sala, sorri para ti que agora passeavas de barco com o braço sobre os meus ombros. Vez por outra me olhavas a confirmar se eu estava junto de ti.
Desembarcamos no meio dos turistas, na antiga gruta formada por estalactites naturais, na Sardenha. Andamos pelas ruas de Roma e no interior da Capela Sistina. Ssubimos os degraus do Vaticano, da sacada admiramos a praça de São Pedro. Passeamos pelas fontes de Rimini, antiga colônia de férias dos imperadores romanos onde aconteciam bacanais na era romana.
Estamos lado a lado. De vez em quando tu te afastas para acender o cigarro, cuidado que os anos de convivência te ensinaram a ter comigo.
Vejo-te dançar a tarantela sarda, pular igual criança e a alegria é tão contagiante, em torno, as pessoas também cantam, dançam, batem palmas. No filme, pareces dizer para te recordar assim, feliz, transbordando vida. Um alento renovador dissolve a dolorosa imagem de teus últimos dias.
Novamente me dou conta que o tempo pode, sim, amenizar o sofrimento de tua ausência. Não estou certa se diminuirá a saudade.
MCC Pazzola