(...)“DEIXEM QUE EU DECIDO A MINHA VIDA”(...)
O mundo da MPB, familiares, amigos, curiosos, todos se perguntaram: onde está Belchior? Uma semana depois descobrimos que ele cansou de ser “apenas um rapaz latino-americano sem dinheiro no bolso, sem parentes e importantes” e resolveu ser um ilustre desaparecido.
Enquanto todos queriam saber por que Belchior desaparecera, sem deixar rastro, eu lembrei que ele vivia avisando: "Saia do meu caminho, eu prefiro andar sozinho, deixem que eu decido a minha vida. Não preciso que me digam, de que lado nasce o sol porque bate lá o meu coração".
Uma semana depois de anunciado o sumiço ele foi encontrado. Sem mistério. Não ficarei surpresa se no dia vinte e seis de outubro, quando fará sessenta e seis anos de idade, ele surgir cantando “não sou feliz, mas não sou mudo, hoje eu canto muito mais...". Melhor ainda se for no início da primavera! Sua música soará mais suave aos nossos olhos e corações.
Na verdade, talvez por ter o mesmo nome que sua irmã, eu já sabia onde estava o Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes e porque ele desaparecera. Vou traduzir, na íntegra, o recado que ele havia mandado para os fãs e familiares, em especial para um grupo de mulheres preocupadas em localizá-lo:
Estou cansado das “aparências, dos erros cometidos, das lágrimas sentidas e choradas, quase sempre às escondidas, das frases ditas com palavras desgastadas pelo tempo”, vou dar um tempo, “quem sabe rebuscando estas mentiras” e, “vendo onde a verdade se escondeu, encontre ainda alguma chance de juntar você, o amor e eu”.
Dito isso ele acenou e disse: “Até logo, eu vou indo. Que é que estou fazendo aqui? Quero outro jogo”, desculpem, nem havia percebido que “há tempo, muito tempo que eu estou longe de casa”.
Infelizmente a globo chegou na frente e estragou meu furo de reportagem. Fazer o quê? Apesar de tudo, assim como ele "eu posso me considerar um sujeito de sorte porque apesar de muito moço me sinto são e salvo e forte".