Estou ficando velho
Não é de agora que sinto a realidade do tempo que já se foi.
Não tenho mais a força de alguns anos passados, foi-se o corpo razoavelmente forte, capaz de ser submetido ao esforço físico e tolerá-lo. Interessante, esta idade. Quase a maioria dos que ela alcançou não se enxerga. Dizem-se novos, saudáveis, fortes e por incrível que pareça, bonitos e sedutores, sexualmente.
Acho graça. Glicemia sujeita a alterações, quando já não se estropiou mesmo, indisfarçáveis rugas, perda da força física – sempre negada -, e pressão arterial comprometida. A única coisa que eu não tenho são as rugas, por razão muito simples. Engordei. As outras mazelas desconheço.
Não vou ao médico ou faço qualquer tipo de exame clínico há seis anos, creio. A memória acaba de dar prova que funciona. Ainda funciona. Não vai a médico nem faz exames por razão simples, dizem. Relaxamento ou medo.
Errado! Comungo com os que pensam que quem procura, acha. Alguma coisa o médico vai encontrar, não é possível que esteja como quando tinha trinta anos. E os exames? Vão pedir até o DNA do fio dos cabelos, também em quantidade bem menor do que aos trinta anos. Cismei com estes trinta anos. Aliás, cismo com muita coisa.
Cara mais chato, esse, pensa o leitor. Tem razão, amigo. Mas isto é novidade, eu não era assim antes. Tenho consciência disso. Aliás, tenho ainda os olhos abertos para muita coisa. Já nem sei bem se isto é sorte ou azar. Ou melhor, pensando bem, sei sim. É melhor porque não me deixa ser um velho palhaço. É pior quando... Deixa quieto, homem! Vai fazer rol de deficiências agora? Bate uma burra depressão e aí, como fica?
O que me salva é ver gente bem mais velha do que eu encantando. São todos criativos e experientes, isto os torna jovens.
Espero e tenho fé que eu tenha a mesma sorte, pois na verdade o título desta crônica é falso. Não estou ficando velho.
Estou velho.