O POETA E O RATO

Acabei de crer, a poesia aproxima as pessoas e as coisas que as cercam. Exerce certo magnetismo e a gente sem querer acaba tomando um caminho inesperado. Quando menos se espera estamos diante de um mar de versos encantados. Um jogo de palavras vai se formando e dando sentido na medida exata para cada circunstancia. Nem se sabe de onde vem, mas ela está ali dentro de nós, a espera apenas de uma caneta, um papel ou de um teclado.

Confesso caro leitor que já fiquei imaginando algumas vezes, ser para mim, aquela poesia escrita por uma pessoa a qual nunca tinha conhecido. Parecia conhecer meus sentimentos e minhas querências. A vontade que tive foi de escrever pra ela, declarar meu amor e pronto! Com o tempo a gente aprende a separar e guardar a emoção e a razão cada um em seu canto, e assim a vida se torna menos complicada. Acontece que nem todo mundo é assim.

Certa madrugada estava escrevendo uns versos para um poema. Tudo quieto lá fora. Só um ventinho frio entrava de vez em quando por uma pequena parte aberta de minha janela. De repente um pequeno barulho na varanda da casa, mas nada que tirasse minha atenção do poema até porque parou logo e não me incomodou mais.

Continuei escrevendo e quando estava pra colocar a última frase, senti o som de alguma coisa cair no sofá onde estava sentado. Olhei para meu lado esquerdo e empalideci. Ninguém menos que um grande rato havia escalado a janela da sala e ficou ali por alguns segundos a ler meu poema. A emoção que sentiu foi tanta que não agüentou e caiu no sofá.

Talvez imaginasse que aqueles versos eram para ele. Quem sabe eu estava escrevendo algo que ele sempre quis dizer a amada e ainda não tinha encontrado as palavras certas. Talvez ele, assim como fui um dia, não soube separar a emoção da razão. Só sei é que nem eu nem ele esperamos pra descobrir tal verdade. Cada um deu um pulo miserável do sofá e saímos correndo em direções opostas.

Herivaldo Ataíde
Enviado por Herivaldo Ataíde em 30/08/2009
Reeditado em 02/09/2009
Código do texto: T1783520
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