No Jardim de Infância

O Jardim de Infância funcionava apenas como local de recreação. As crianças desenhavam, cantavam, recitavam os números e faziam alguns trabalhinhos. Destes, o que mais me interessava era tecer esteirinhas em papel colorido. Na hora do recreio brincávamos de roda e corríamos pelo pátio.

Cadeiras baixinhas em volta das mesas redondas eram estofadas em azul ou vermelho. Na hora de sentar todos corriam para pegar as cadeiras azuis. Ninguém queria sentar nas vermelhas. Para nós, as azuis representavam o Céu e as vermelhas o Inferno. É claro que muita gente sobrava e tinha que ficar nas vermelhas mesmo e quem conseguia alcançar o Céu ficava mostrando a língua e fazendo fusquinha para as outras do Inferno. Algumas crianças até choravam, porque temiam os castigos do Diabo.

Depois de algum tempo fui para outra escola, junto com Zezinho e Luis, meus primos e Paulo, meu irmão. Era uma escola grande, entrávamos por um portão lateral e íamos direto para a sala. Havia crianças de várias idades e num canto tinha um quadro-negro em cima do cavalete. Não me lembro o que fazíamos, as atividades deviam ser as mesmas.

Lembro bem que na hora do recreio acontecia uma coisa surpreendente. Como num passe de mágica, ali no pátio aparecia Filhinha, a nossa babá, carregando uma bandeja. Era o lanche que ela trazia todos os dias. Na jarra havia café com leite quente e na cesta, fatias de pão com manteiga cobertas de açúcar! Nós nos regalávamos enquanto as outras crianças olhavam intrigadas.

(1991)