A Sobrevivente
Cissa de Oliveira
Uma fotografia. Refém de um papel comum, nela tudo é singelo, como se ela, sim, ela, a fotografia, não tivesse a sua própria história, independente da modelo ali estampada.
A modelo, uma moça de cabelos curtos, sobrancelha fina, boca pequena. O olhar é direto e profundo, e no entanto, incompleto, como se guardasse um apelo. Onde estaria a força capaz de completá-lo? Estaria atrás da câmera fotografia, no fundo do olhar daquele que tudo enfocava sob um sol de antes de um meio-dia dominical? E seria ele o dono da camisa, nitidamente masculina, que abraça a fragilidade da moça?
O céu está aberto, e o sol, nota-se, é morno ainda. O dia está tão radiante que é como se aquela fotografia possuísse força para escapar de toda e qualquer tormenta e destruição, apenas para falar daquele dia tão primaveril. Sobrevivente, era como se a fotografia contasse que não existe passado, nem presente, nem futuro.