DE PRAÇA EM PRAÇA
Hoje, ao vir para casa, ao passar em frente a uma praça da minha cidade – esta que transformaram em área de beber –, a recordação dos tempos idos se fez presente em minhas lembranças. Percebi, por exemplo, que as praças da minha cidade não são mais praças como antigamente e que muitas delas já não existem ou foram transformadas em tudo, menos praças.
E não preciso ser saudoso. Mas, basta olharmos um passado recente para vermos que as nossas tradições relacionadas a elas, as praças, estão acabando ou já se acabaram. Por exemplo, a antiga Praça do Cine Pax. Lá existia, no meio dela, o coreto onde a retreta fazia seus concertos populares e as famílias compareciam para ouvi-la e para apreciar o pôr-do-sol. As crianças brincavam, as moçoilas casadouras tomavam sorvetes enquanto pelo o canto do olho, disfarçadamente, procuravam os seus pretendentes, que já sabiam das estratégias delas e jogavam o mesmo jogo. Os mais velhos, estes já acostumados às marchinhas, jogavam seus dominós e suas cartas de baralhos, indiferentes aos burburinhos dos pássaros que faziam suas acrobacias para procurarem o melhor local para mais uma noite de descanso.
A Praça Bento Praxedes, conhecida como Praça do Codó – outra lembrança boa –, abrigou os maiores comícios já realizados na nossa cidade. Por lá passaram os maiores políticos do nosso Estado e até candidatos a Presidente da República e até os próprios Presidentes. Contudo, o maior de todos, aquele que a deixou conhecida, de fato, foi, sem sombra de dúvidas, o político mais carismático que o nosso Estado já produziu: Aluísio Alves. Lembro-me, perfeitamente, da sua volta à política depois da sua cassação pelo Regime Militar. A praça cheia: velhos, moços, crianças, amigos, antigos adversários, todos juntos. A sua primeira fala: "Rio-grandenses-do-norte!" A Praça veio abaixo. Todos choravam – uns de alegria, outros de emoção; a sua maioria, no entanto, chorava de puro prazer ao ver o seu ídolo de volta ao cenário que ele ajudou a eternizar.
A Praça da União Caixeiral. Esta tem as histórias de quase todos os cidadãos mossoroenses que estudaram nas décadas anteriores a 2000, na Escola Técnica de Comércio. Era o local onde aconteciam os Eventos Cívicos da nossa cidade. Por ali desfilaram nomes importantes de nossa história, e ela foi marco das lutas dos estudantes mossoroenses.
Na periferia da cidade, nós tínhamos as praças mais disputadas. Naqueles espaços circulavam rapazes e moças que marcavam encontros. A do Alto da Conceição era conhecidíssima. Os rapazes ficavam circulando-a, enquanto as mocinhas ficavam sentadas nos bancos à espera do sinal característico da época: o piscar de olho. Se fosse do interesse da jovem, na próxima volta, ela já estaria de pé a esperar pelo seu futuro namorado. Era um barato!
A do Bairro da Boa Vista não perdia em número de jovens que as frequentavam. Eles vinham de todos os cantos da cidade. Ela estava sempre cheia deles. Ali se conheceram muitos senhores da nossa sociedade, ali se fizeram os primeiros passos para o casamento deles. E ainda tinha o atrativo do bar de Elpídio e o forró de Pajeú.
As praças eram, em sua maioria, o ponto de encontro, o início de tudo. Dali, delas, os jovens iam tomar seus rumos. Uns iam para as casas das namoradas, outros iam para ficar e arranjar uma, quase todos iam lá porque a praça simbolizava o que os shoppings simbolizam hoje: o status. É sim! Quem ia à praça tinha status!
Mas, o mais importante era você poder circular, em paz, com segurança, sem medo, ficar até altas horas da noite – tanto rapazes quanto moças – sem se preocupar com assaltos, brigas, drogas, assassinatos. A praça era canto de amizade, coleguismo, namoro.
E, hoje ao voltar para casa, o que vi foi apenas uma singela lembrança do que elas representaram para a minha cidade. Por todos os lados, homens disputando cada pedaço delas – como se fossem os verdadeiros donos, afugentando quem quer se aproximar para se sentar um pouco, mesmo correndo o risco de ser subtraído de seus pertences. Carros que disputam os transeuntes, camelôs que impedem a passagem de quem quer ir e de quem quer vir; muitas delas completamente abandonadas pelo poder público, porém, ocupadas por marginais e usuários de drogas, enfim, acabou-se a simplicidade dos tempos onde sentar-se na praça para assistir à televisão era o programa mais saudável do mundo – a Praça da Baixinha tinha o melhor televisor da cidade.
Finalmente, cheguei em casa. Apesar das reminiscências, acompanho a modernidade. Imediatamente, ponho uma calça de jogging, calço tênis apropriados – com amortecedores – e vou fazer aquilo que tudo mundo está fazendo em volta das praças mais disputadas da cidade: caminhar.
Obs. Praça do Pax/Mossoró-RN, em 1946.
Hoje, ao vir para casa, ao passar em frente a uma praça da minha cidade – esta que transformaram em área de beber –, a recordação dos tempos idos se fez presente em minhas lembranças. Percebi, por exemplo, que as praças da minha cidade não são mais praças como antigamente e que muitas delas já não existem ou foram transformadas em tudo, menos praças.
E não preciso ser saudoso. Mas, basta olharmos um passado recente para vermos que as nossas tradições relacionadas a elas, as praças, estão acabando ou já se acabaram. Por exemplo, a antiga Praça do Cine Pax. Lá existia, no meio dela, o coreto onde a retreta fazia seus concertos populares e as famílias compareciam para ouvi-la e para apreciar o pôr-do-sol. As crianças brincavam, as moçoilas casadouras tomavam sorvetes enquanto pelo o canto do olho, disfarçadamente, procuravam os seus pretendentes, que já sabiam das estratégias delas e jogavam o mesmo jogo. Os mais velhos, estes já acostumados às marchinhas, jogavam seus dominós e suas cartas de baralhos, indiferentes aos burburinhos dos pássaros que faziam suas acrobacias para procurarem o melhor local para mais uma noite de descanso.
A Praça Bento Praxedes, conhecida como Praça do Codó – outra lembrança boa –, abrigou os maiores comícios já realizados na nossa cidade. Por lá passaram os maiores políticos do nosso Estado e até candidatos a Presidente da República e até os próprios Presidentes. Contudo, o maior de todos, aquele que a deixou conhecida, de fato, foi, sem sombra de dúvidas, o político mais carismático que o nosso Estado já produziu: Aluísio Alves. Lembro-me, perfeitamente, da sua volta à política depois da sua cassação pelo Regime Militar. A praça cheia: velhos, moços, crianças, amigos, antigos adversários, todos juntos. A sua primeira fala: "Rio-grandenses-do-norte!" A Praça veio abaixo. Todos choravam – uns de alegria, outros de emoção; a sua maioria, no entanto, chorava de puro prazer ao ver o seu ídolo de volta ao cenário que ele ajudou a eternizar.
A Praça da União Caixeiral. Esta tem as histórias de quase todos os cidadãos mossoroenses que estudaram nas décadas anteriores a 2000, na Escola Técnica de Comércio. Era o local onde aconteciam os Eventos Cívicos da nossa cidade. Por ali desfilaram nomes importantes de nossa história, e ela foi marco das lutas dos estudantes mossoroenses.
Na periferia da cidade, nós tínhamos as praças mais disputadas. Naqueles espaços circulavam rapazes e moças que marcavam encontros. A do Alto da Conceição era conhecidíssima. Os rapazes ficavam circulando-a, enquanto as mocinhas ficavam sentadas nos bancos à espera do sinal característico da época: o piscar de olho. Se fosse do interesse da jovem, na próxima volta, ela já estaria de pé a esperar pelo seu futuro namorado. Era um barato!
A do Bairro da Boa Vista não perdia em número de jovens que as frequentavam. Eles vinham de todos os cantos da cidade. Ela estava sempre cheia deles. Ali se conheceram muitos senhores da nossa sociedade, ali se fizeram os primeiros passos para o casamento deles. E ainda tinha o atrativo do bar de Elpídio e o forró de Pajeú.
As praças eram, em sua maioria, o ponto de encontro, o início de tudo. Dali, delas, os jovens iam tomar seus rumos. Uns iam para as casas das namoradas, outros iam para ficar e arranjar uma, quase todos iam lá porque a praça simbolizava o que os shoppings simbolizam hoje: o status. É sim! Quem ia à praça tinha status!
Mas, o mais importante era você poder circular, em paz, com segurança, sem medo, ficar até altas horas da noite – tanto rapazes quanto moças – sem se preocupar com assaltos, brigas, drogas, assassinatos. A praça era canto de amizade, coleguismo, namoro.
E, hoje ao voltar para casa, o que vi foi apenas uma singela lembrança do que elas representaram para a minha cidade. Por todos os lados, homens disputando cada pedaço delas – como se fossem os verdadeiros donos, afugentando quem quer se aproximar para se sentar um pouco, mesmo correndo o risco de ser subtraído de seus pertences. Carros que disputam os transeuntes, camelôs que impedem a passagem de quem quer ir e de quem quer vir; muitas delas completamente abandonadas pelo poder público, porém, ocupadas por marginais e usuários de drogas, enfim, acabou-se a simplicidade dos tempos onde sentar-se na praça para assistir à televisão era o programa mais saudável do mundo – a Praça da Baixinha tinha o melhor televisor da cidade.
Finalmente, cheguei em casa. Apesar das reminiscências, acompanho a modernidade. Imediatamente, ponho uma calça de jogging, calço tênis apropriados – com amortecedores – e vou fazer aquilo que tudo mundo está fazendo em volta das praças mais disputadas da cidade: caminhar.
Obs. Praça do Pax/Mossoró-RN, em 1946.