A morte de Lampeão
A morte de Lampeão
Tive uma absurda sensação de perda com a morte de Lampeão, o rei do cangaço em 1938; eu tinha 7 anos e acompanhava com vivo interesse as peripécias do cangaceiro; os jornais contavam com detalhes o massacre do bando em Angicos; fiquei muito triste e, quando fizeram uma exposição no IML do Rio de Janeiro, hoje museu de arte e de som, na Praça Marechal Âncora, fui ver os paramentos do cangaço, assim como, algumas cabeças dentro de vidros com formol; cangaceiros menos graduados. Restava para mim o herói Corisco, o diabo louro, que pouco depois, foi cercado e morto. Li muita coisa sobre o cangaço, já adulto, as explicações sociológicas etc. Na década de 70, participei de um júri simulado de Lampeão, com o saudoso Antonio Tranjan, advogado notável, e Laercio Pelegrino, promotor; eu no júri com outras personalidades de fato, todos loucos para urinar, em pleno frio de Petrópolis, no Hotel Quitandinha; até o Cardeal Reitor da PUC de Petrópolis...E os discursos técnicos seguiam-se com brilho invulgar, eu sem saber o que fazer, já nem raciocinava mais. O Cardeal não se conteve e me segredou a urgência miccional. Pedimos ajuda a Deus, para que ninguém saísse molhado, e na hora do veredicto...Condenamos Virgulino Ferreira o Lampeão. Ainda hoje me entristeço com a traição cometida. Poder-se-ia escrever uma tese da influência da micção no júri popular. Vi os filmes do Glauber sobre o cangaço e revi inúmeras vezes, Deus e o Diabo na Terra do Sol. O nome é mais pomposo e importante do que o filme. Hoje os heróis são outros. Observo os desenhos infantis, como os do Gabriel, mostrando heróis americanos e japoneses, e uma parafernália de viaturas superarmadas, que se transformam em monstros verdes ou multicoloridos. Precisamos de um historiador que possa fazer a história do cangaço, à semelhança do que Albert Soboul fez com a revolução francesa, sem omissões ou excessos, mas com a necessária fantasia que dá o colorido à realidade.